Uma invenção que a priori surgiu de um encontro entre Luiz Gonzaga e seu parceiro Humberto Teixeira onde juntos escreveram a música: “No meu pé de serra”, porém a música que selou a criação do gênero baião foi a música intitulada com o mesmo nome do gênero, “Baião”. Segundo Dreyfus (1997, p. 110), esse gênero era “[…] o verdadeiro manifesto de uma nova música, ou, mais precisamente, de um novo ritmo inventado pela dupla”. Nesse momento estava nascendo o ritmo que iria conquistar o Brasil na voz de seu criador e intérprete. Mais adiante, em seu livro, Dreyfus (1997, p. 112), destaca que o baião ao contrário de outros ritmos não surgiu de repente, ele foi programado:
[…] no caso do baião houve um real planejamento, uma intenção de lançar no Sul, e, portanto, para todo o Brasil, de forma estilizada, ou melhor, maciada ao paladar urbano, a música nordestina, da qual o ritmo essencial escolhido para essa estilização foi o baião e isso tudo partiu da cabeça de Luiz Gonzaga, e só da cabeça dele. (DREYFUS, 1997, p. 112)
Desta forma, pode-se perceber que o baião foi algo pensado, calculado por Luiz Gonzaga e seu parceiro, que buscaram na cultura nordestina e no ritmo do nordeste todo o seu repertório, pois eles conseguiram trazer o sertão para dentro da música, como Vieira (1999, p. 32) apresenta: “Traduzindo súplica, louvor ou narrativa, o baião parece trazer o sertão para um passeio por dentro da música.” Era o que Gonzaga queria desde o princípio, apresentar o sertão para o Brasil por meio de suas músicas e pelo ritmo que ele criou. Sendo assim, em suas músicas Luiz Gonzaga trazia o dia a dia dos sertanejos, por isso suas músicas eram fortemente ligadas com o público e com o próprio intérprete, mostrando uma intimidade com o que estava sendo cantado por trazer sua memória individual ao cantar suas vivências e a memória coletiva ao destacar a vida dos sertanejos, do povo do Nordeste, como destaca Vieira (1999, p. 33):
A música de Luiz Gonzaga caminha quase sempre muito próxima da narrativa e identificada com o cotidiano dos indivíduos. A sua interpretação é fortemente marcada pela improvisação, provavelmente fruto também da sua relação com o público ou com o mundo vivido por esse público, 25 aparentemente fora do campo musical, mas que, de fato, funciona para o artista como fonte de inspiração. Percebe-se, pois, constantemente a criatividade dentro dessa “invenção” chamada genericamente de baião” (VIEIRA, 1999, p. 33)
Falando ainda sobre a criação do baião, a autora Vieira (1999, p. 114) ressalta que Luiz Gonzaga provavelmente tinha encontrado em uma manobra de memórias e subconsciente do seu mundo íntimo e familiar o que seriam: “as chaves com as quais estabeleceria a sua diferenciação naquele ‘mundo novo’: o baião e o chapéu de couro.” Desta forma, Luiz Gonzaga, junto com Humberto, criou o baião, um gênero musical que traz o sertão nordestino para a capital do Brasil, como destaca Vieira, (1999, p. 123):
[…] em parceria com Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga faz um retorno a tradições nordestinas, surgindo assim, o baião.[…] Dentro desse mesmo processo, Luiz Gonzaga, cognominado Rei do baião, é consagrado seu principal intérprete, conquistando assim diferentes espaços e segmentos da sociedade brasileira. (VIEIRA, 1999, p. 123)
É notório a cumplicidade de Luiz Gonzaga e o baião ao ponto de batizá-lo com o título de “REI DO BAIÃO”, cujo título ele levaria para todos os lugares. Não daria mais para falar de Luiz Gonzaga sem descrever seu título bem nomeado por aqueles que estavam ao seu lado. Desse modo, Gonzaga conquistou todos os quatro cantos do Brasil, usando o maior meio de comunicação da época, o rádio, que seria seu maior parceiro em sua ascensão.
Fonte: www.repositorio.ufc.br
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.