Chá de Memória: poesia, debate sobre legado de Delmiro Gouveia e lançamento de livro
24/10/2019
Evento apresentou livro sobre revisão criminal nos 102 anos de morte do industrial, assassinado em 10 de outubro de 1917
Texto de Wellington Santos
Em noite de debates produtivos, o Arquivo Público de Alagoas (APA) promoveu, na terça-feira (22), sua 37ª edição do tradicional Chá de Memória. O tema desta vez foi “Delmiro Gouveia, uma trajetória de um industrial sertanejo”.
O professor-doutor em História, Edvaldo Nascimento, e o professor José Cícero Correia foram os palestrantes e debatedores. Nascimento discorreu sobre a vida de Delmiro Gouveia, desde sua origem, na cidade natal de Ipu, no Ceará, passando pelo período em que atuou como empreendedor bem-sucedido, no Recife, até sua chegada ao município de Água Branca, sertão de Alagoas, onde deu início ao processo de desenvolvimento da região, inaugurando a Fábrica da Pedra e, depois, o complexo de Angiquinho, a primeira hidrelétrica do Nordeste e a segunda do Brasil.
“A figura de Delmiro no contexto histórico está para o Nordeste em importância comparada a ícones como Luiz Gonzaga, o rei do baião”, destacou Nascimento.
Em seguida, o historiador José Cícero Correia apresentou conceitos sobre o que seria memória e história e abordou o conteúdo de seu livro “Trabalho, Seca e Capital – da construção da Ferrovia Paulo Afonso à Fábrica de Linhas de Pedra”, obra que foi lançada no Chá de Memória.
“Este Chá de Memória foi bastante interessante, porque aguçou muito a curiosidade sobre a figura do industrial Delmiro Gouveia para Alagoas. Abriu a visão sobre a importância dele no contexto do desenvolvimento de toda a região nordestina, numa época ainda muito remota. O debate mostrou como Delmiro esteve à frente de seu tempo”, ressaltou a superintendente do APA, Wilma Nóbrega.
Depoimento e poema
O 37º Chá de Memória foi palco também para o lançamento do livro Revisão Criminal do Processo Delmiro Gouveia. A publicação acompanha a revisão da condenação de Róseo Moraes do Nascimento, José Ignácio Pia, conhecido como Jacaré, e Antônio Félix do Nascimento, os principais acusados do assassinato de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, em 1917, e cujo aniversário de morte completou 102 anos no último dia 10 de outubro.
A obra foi um projeto coordenado e sonhado por décadas pelo desembargador aposentado Antônio Sapucaia, que faleceu no dia 3 de outubro deste ano. Enquanto jornalista, Sapucaia foi responsável pela primeira entrevista com Róseo Moraes, em 1968, que revelou as inúmeras torturas realizadas para que ele confessasse um crime que não cometeu.
O livro foi elaborado pelo advogado de defesa dos acusados Antônio Aleixo Paz de Albuquerque (in memorian), com pesquisas do historiador Moacir Medeiros de Sant’Ana.
A filha de Moacir Santana, a advogada Ana Sant’Ana, destacou o valor da obra para a sociedade: “É um livro que nos apresenta claramente, com provas robustas, que houve um erro do Judiciário alagoano na condenação de três inocentes. E nos apresenta, ainda, como Delmiro Gouveia faz parte da vida de todos nós alagoanos, apesar de não ter sido um alagoano”, ressaltou.
No encerramento da noite, o público foi brindado com a declamação de versos do poeta alagoano de renome nacional, Jorge de Lima, pelo ator Chico de Assis, que apresentou o poema “Rio São Francisco”.