Era uma vez um homem que entendia a linguagem dos bichos. Passeava com a mulher pelo campo. Quando ouviu dois cavalos conversarem, e deu uma bruta risada.A mulher perguntou-lhe porque se ria. O homem respondeu:
– Por causa da conversa dos dois cavalos. Então, ela começou a instar com o marido para lhe referir a dita conversa.
– Eu bem podia contar a você o que os cavalos conversaram, mas na mesma hora que acabar de contar, morrerei.
– Mas eu quero saber! – retrucou a mulher curiosa.
– Então você quer que eu morra?
– Não sei nada disso! Tem de me contar a conversa dos cavalos!
A discussão durou muitos dias. O pobre homem ficou meio zonzo. Viu que não convencia a mulher e entregou-se.
– Olha, mulher sem coração! – falou ele – eu vou contar a você a conversa dos cavalos, mas melhor aprontar tudo para o enterro! (Dizia isto pensando que a mulher se arrependesse a última hora).
Mandou comprar o caixão, e as velas e assentou-se na rede muito triste. O galo subiu no caixão, bateu as asas e cantou. A cachorrinha, que estava num canto, pensativa, falou ao galo:
– Galo, coração de pedra! Você tem coragem de cantar na despedida de nosso dono?
– Canto e mais que canto. Ele vai morrer, porque é um moleirão e se entregou à mulher. Porque ele não faz como eu, que no terreiro tomo conta de vinte galinhas?
O homem ouvindo isso, criou coragem, de repente. Mandou o empregado trocar o caixão e as velas por um chicote. E depois pegou o chicote e perguntou a mulher:
– Você ainda quer saber a conversa dos cavalos?
– Quero, como não?
– Pois foi assim. E lepte, lepte, lepte, nas costas da mulher, que dava cada grito! Parou um pouco.
– E… você ainda quer saber?
– Quero sim! Continuou a tunda com todas as regras, até que a curiosa ajoelhou e pôs as mãos, murmurando entre soluços.
– Pelo amor de Deus! Chega! Maridinho do meu coração, não quero mais saber da conversa dos cavalos. Nunca mais!
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