Jacinto foi, sem dúvida, um dos principais representantes do coco-de-roda do Nordeste; ele deixou um legado de cerca de 200 composições.
Parece que foi ontem, mas já hoje completa-se 18 anos desde a morte do incomparável Jacinto Silva, um dos dos artistas mais representativos surgidos no nordeste na segunda metade do século passado. Sua marca registrada foi o coco-de-roda do qual seu maior mestre foi Jackson do Pandeiro. Jacinto nasceu no município de Palmeira dos Índios (AL), em 23 de agosto de 1933, e aos 11 anos já enveredava para a música, porém só veio gravar seu primeiro disco 20 anos depois, quando em 1962 na extinta gravadora Mocambo gravou o baião intitulado “Justiça divina”, autoria de Onildo Almeida e a moda de roda “Bambuê bambuá”, de Joaquim Augusto e Luiz Plácido. Ainda em 62 Ari Lobo grava “Moça de hoje, parceria de Jacinto com Ari Lobo gravado na RCA Victor.
Em 1963, na mesma gravadora gravou de sua autoria o coco “Coco trocado” e de Onildo Almeida, a moda de roda “Chora bananeira”. No mesmo período, registrou de Genival Lacerda e Antônio Clemente, o rojão “Carreiro novo”. Em 1964 gravou dois dos últimos 78 rotações da série 15.000 da Mocambo com a moda de roda “Aquela rosa”, de sua autoria e o coco “Na base do tamanco”, parceria com José Maurício. Na ocasião, os discos foram divididos com Toinho da sanfona, que gravou no lado B. Em 1966 lançou o LP “Cantando”, pela gravadora CBS. Em 1973 participou do disco “Forró na palhoça” lançado pela CBS no qual interpretou “Tarrabufado”, de sua autoria e Isabel Biluca e “Flor de croatá”, de João Silva e Raimundo Evangelista.
Em 1974 lançou pelo selo Tropicana-Cantagalo o LP “Eu chego lá”, que na época recebeu calorosa crítica do jornalista José Ramos Tinhorão, que a respeito do disco afirmou: “… desfilam toadas agalopadas como “Flor de Croatá”, cocos como “Coco do pandeiro”, mazurcas nordestinas como “Eu chego já”, baiões de ritmo acelerado como “Tentar esquecer”, sambas-baiões como “Concurso de voz”, gêneros desconhecidos como mineiro-pau: uma estranha mistura que lembra ao mesmo tempo o ritmo do calango e, mais longinquamente, dos sambas de partido alto cariocas.” Em 1978, teve o baião “Abôio de vaqueiro”, com Zé Cacau, gravado pelo trio de forró Os Três do Nordeste no LP “Forró do poeirão”.
Em 2000 lançou pela Manguenitude o CD “Só não dança quem não quer”, produzido por Zé da Flauta, com participações especiais de Chico César, Vange Milliet, Mestre Ambrósio, Marcos Suzano, Toninho Ferraguti e Bocato. Destacaram-se no disco, “Fumando mais Tonha”, “Coco trocado”, “Chora bananeira” e “Abaio de vaqueiro”. Ao longo da carreira gravou 24 LPs e dois CDs. Seu maior discípulo é o cantor e compositor carpinense Silvério Pessoa, que ainda no mesmo ano de 2001 fez um tributo ao alagoano com o CD “Bate o mancá”, com músicas de Jacinto Silva, que aparece em algumas vinhetas ao longo do disco.
Jacinto disseminou a paixão pela música por onde passou. Vítima de cirrose hepática, ele deixou o legado de 200 composições. Deixou também a esposa Maria Lieta, com quem foi casado há 40 anos. “Ele amava e deixava qualquer coisa pela música”, conta a viúva. O alagoano veio para Caruaru no final da década de 50, para cantar nos programas de rádio. O chapéu era a sua marca registrada. Em 2000, ao lado do cantor Silvério Pessoa, Jacinto gravou um clipe que foi exibido no Abril Pro Rock.
Um cômodo da casa onde a família mora em Caruaru abriga todas as lembranças da carreira do cantor e é uma espécie de memorial da vida e da obra dele. Reportagens, discos e fotos de shows que fez por todo o país estão expostos nas paredes da sala.
“O objetivo é preservar a memória do cantor Jacinto Silva, para que, no futuro, os bisnetos venham conhecer a história dele”, conta a filha do músico, Penha Maria Jacinto Silva. Jacinto Silva era admirado por grandes músicos da MPB, como Xangai. “Ele tinha o dom de fazer música utilizando a fragmentação rítmica e o trava língua”, diz. O compositor Juarez Santiago guarda em casa 18 discos do ídolo. A parceria entre eles começou em 1968. A partir daí, Jacinto gravou 25 músicas de Juarez, entre elas, “Quero ver rodar”. O cantor Valdir Santos compôs uma canção em homenagem ao ídolo. O próximo disco dele trará uma música inédita de Jacinto, intitulada “Igarapé”. “Ele tinha a principal característica que só grandes almas têm, que se chama generosidade. Isso era muito claro na pessoa de Jacinto. E no profissional, a sabedoria, a arte de colocar palavras e a forma difícil de cantar”, conta Valdir Santos.
Jacinto Silva, faleceu no dia 19 de fevereiro de 2001, aos 67 anos, na cidade pernambucana de Caruarú, onde construiu sua carreira artistica. Seu estilo único de cantar côco, transformou sua vida e com isso se tornou conhecido e reconhecido no Nordeste e Brasil afora.
Fonte: www.musicariabrasil.blogspot.com