O poeta Sebastião Dias apresenta um histórico parecido, embora acrescente a contribuição dada pela leitura de folhetos: O meu início foi muito difícil, haja vista que eu não sou hereditário de nada de cantador de viola, né? Muitos cantadores têm o privilegio de ter um tio cantador, o pai cantador ou um vizinho muito próximo cantador e nesse sentido. E eu despertei pela vontade própria, foi questão do eco.
Eu comecei a ouvir grandes cantadores da região do Seridó, onde eu nasci, e para mim foi a coisa mais bela, mais sublime que se identificou comigo foi aquela coisa do improviso no pé-de-parede, então, eu acho que de início foi até um fanatismo porque se eu não cantasse eu teria morrido.
Aí, no início, eu tive muita dificuldade a começar pela própria família. Meu pai não queria que eu cantasse. Depois eu dei muita razão a ele porque assim: ele tinha medo que eu não fosse um cantador de aceitação. Foi a desculpa dele depois, mas eu creio que sim, foi isso. Nós somos de origem simples, eu sou filho de camponês e camponesa também, então, na minha família não tem hereditariedade nenhuma.
Despertei ouvindo os grandes cantadores, como eu disse, e que me incentivaram muito. Outra coisa que me despertou pra cantar também, e eu tenho uma certa facilidade em leitura, foi o cordel, certo? O folheto, como a gente chamava lá no Seridó, e o cordel foi, e ainda é, uma grande fonte de comunicação. Eu, menino, fiquei, de repente, com o cordel e a cantoria de viola, entendeu? São duas coisas que toda vida eu gostei de apreciar e botar em uso.
Poesias de Sebastião Dias
Cemitério é a casa
Dos nossos restos mortais;
Ambição, ódio e vingança
Ficam do portão pra trás,
Porque, do portão pra frente,
Todos nós somos iguais.
*
Na madrugada altaneira,
Geme o vento atrás do monte;
Um cururu toma banho
Na água fresca da fonte
E a lua dorme emborcada
No colchão do horizonte.
*
Depois que a chuva caiu,
Ficou verde o arrebol,
A babugem cobre o chão;
Parece um verde lençol,
Cicatrizando as feridas
Das queimaduras do sol.
*
Deixei uma seca grande
No Nordeste brasileiro:
De verde, só aveloz,
Papagaio e Juazeiro,
Que o Nordeste, pra sorrir,
Tem que Deus chorar primeiro!
*
É um dia de tristeza
quando a mãe para o céu vai.
Os filhos se cobrem em prantos;
O caçula diz: ô pai,
Não vê, mamãe ta dormindo!
Abra o caixão que ela sai!
*
Das quatro e meia em diante,
Sinto de Deus o poder,
Um sopro espatifa as nuvens
Para o dia amanhecer,
Deus enfeita o firmamento
E a vassoura do vento