Sergipe viria a se consolidar como um verdadeiro “feudo” do rei do cangaço por todo o período em que durou seu segundo reinado; entre 1929 e 1938. Foi a partir dali que Lampião estabeleceu um novo “estilo” de atuação dos bandos cangaceiros; consolidando a divisão de seu numeroso bando em pequenos grupos comandados por sub chefes, atuando em vários lugares ao mesmo tempo, confundindo e desmobilizando os esforços das forças policiais perseguidoras, como o Mestre Alcino Alves Costa, patrono do Conselho do Cariri Cangaço indica: “O poder de Lampião era tão grande que ele teve a ousadia de dividir partes do Estado de Sergipe nos moldes das antigas sesmarias, colocando seus principais homens, como se fossem sesmeiros, à frente de vastas glebas de terras, por exemplo: na região que compreende os municípios de Frei Paulo, Carira, em Sergipe, e Paripiranga, na Bahia, o domínio de Zé Baiano; em Porto da Folha, Gararu e N. S. da Glória, o senhor daquelas terras era o cangaceiro Mariano, em Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe, o domínio era de Zé Sereno e em Canindé, o poder estava nas mãos de Juriti”, enfim.
Seria também em Sergipe que o Rei do Cangaço encontraria seus mais destacados “coiteiros”, todos da mais alta “patente”, como veremos mais à frente e também em Sergipe teríamos seu último ato: Angico; no antigo município de Porto da Folha; atualmente em território emancipado de Poço Redondo, berço de Alcino Alves Costa, território de muitas histórias, tradição, e território onde localiza-se a famosa Maranduba. Seguimos com o próprio Alcino Alves Costa que nos apresenta Maranduba:”O cerrado de Maranduba era, e ainda é, uma das mais faladas caatingas da região sertaneja de Sergipe, mataria grossa: o cipó de leite, bom nome, angico, aroeira, braúna, barriguda, umburana, quixabeira e umbuzeiro, morada do gato, da ema, do caititu, do tatu bola e do peba. Pastos onde só vaqueiros machos corriam atrás de bois, vaqueiros escolhidos e famosos como os Soares, o maioral Milinho, João Preto, os Teobaldo, os do Cuiabá e os de João Maria: Adolfo e Manezinho Cego, o famoso Manezinho de Rosara.”
O alto sertão sergipano, grifado em laranja no mapa (Mapa atual de Sergipe) destaca seus sete municípios : Canindé do São Francisco, Poço Redondo, Porto da Folha, Monte Alegre, Nossa Senhora da Glória, Gararu e Nossa Senhora de Lourdes. Na época do Fogo do Maranduba, janeiro de 1932, Poço Redondo pertencia a Porto da Folha.
Sergipe “feudo do rei do cangaço”: Feudo é a terra ou uma fonte de renda concedida por um suserano ao vassalo, em troca de fidelidade e ajuda militar. Essa prática desenvolveu-se na alta Idade Média, no governo de Carlos Magno após o fim do Império Romano e foi a base para o estabelecimento de uma aristocracia fundiária.
A grande maioria dos pesquisadores acostumamos a chamar :”Fogo DA Maranduba”, mas os do lugar referem-se ao episódio com o substantivo no masculino, ou seja, “fogo DO Maranduba”. É Manoel Belarmino; pesquisador e escritor de Poço Redondo; que nos fala: “O Sítio e o Maranduba eram duas fazendas que, no tempo do Cangaço, pertenciam aos Soares, meus antepassados.” Quem sai das Alagoas, atravessa o São Francisco e entra em Sergipe por Canindé, pega a rodovia SE 230 rumo a Poço Redondo por cerca de 22 km. Na entrada da cidade se segue por uma estrada de terra à direita por cerca de uns 17 km passando por vários lugarejos e fazendas; inclusive a casa da ex-cangaceira Adília; vislumbrando ao longe a famosa Serra Negra; de João Maria e Zé Rufino; se chega a incomparável fazenda Maranduba, palco de um dos mais espetaculares e sangrentos combates do ciclo lampiônico, o conhecido Fogo do Maranduba, ali somos anfitrionados pela capela de Santa Luzia.
O Fogo do Maranduba sem dúvidas se configura como mais um surpreendente combate onde Virgulino novamente mostraria sua vivacidade e o pleno conhecimento do lugar, além de táticas de combate na caatinga; em alguns desses em ambiente hipoteticamente desfavorável, como era o caso ali na fazenda Maranduba; em função do relevo e da vegetação do lugar, claro que com alterações naturais pela ação do tempo e do homem, hoje mudados. Do cenário da batalha pouco se conservou, a casa da fazenda toda ruiu, a vegetação típica da caatinga da época virou uma grande roça, poucas pedras, as pias secas, apenas os enigmáticos umbuzeiros e a cruz que marca o local do sepultamento dos homens de Nazaré, testemunham contra o tempo, aquela que foi uma das mais significativas vitórias de Virgulino Lampião.
Fonte: www.cariricangaco.blogspot.com