Mestre Verdelinho, 12 anos de saudade

Mario Francisco de Assis –Verdelinho, nascido na fazenda Ligação/ Usina Utinga/AL, no dia 24 de fevereiro de 1945 é filho de Manoel Francisco de Assis e Otilia Maria da Conceição.

Tem como profissão, desde os oito anos de idade, ser cantador e poeta, pois saia com seu pai para as feiras, “tirando da rima o sustento da vida”.Saiu cedo de casa, tornando-se amigo do mestre Curió com quem continuou a cantar em feiras e nas portas de cinemas.Passou a ser cantador de coco ou pagode, cantando com Curió e Canário nos mais diversos ambientes, -“achava bonito o violeiro cantando acompanhado pela viola as histórias escritas no Cordel: “As Bravuras de Nequinho e Jandira”, “Josina e Vicente”, “O soldado Jogador”, passei também a cantar. Depois, empolgado pelos diversos gêneros da viola passou a cantar seistilhas, galope a beira mar, quadrão a beira mar.

No sítio Chã da Mangueira, em São Miguel dos Campos conheceu o cantador Sebastião Macena que o incentivou ainda mais o gosto pela cantoria. Sem condições de possui uma viola construiu sua própria viola de “costa de palha de palmeira” iniciando assim sua arte de violeiro. Ouvia falar nos grandes nomes da viola como Frederico Bernardes, Manoel Nenê, Joaquim Vitorino, entre outros. Mas foi o cantador Otávio José que o batizou de Verdelinho de Alagoas, em 1962, o que muito lhe agradou.Foi companheiro, por muitos anos , da afamada mestra de reisado, Dolores Jupi, com quem muito aprendeu, sendo também mateu do guerreiro da mestra Joana Gajuru, por vários anos.

Vindo para Maceió, começou a dançar guerreiro, em 1968, com o mestre Jorge Ferreira, na Chã da Jaqueira, como carregador de maleta e “botador de entremeios”. Certa feita, tendo que substituir o mestre Jorge no guerreiro do professor Pedro Teixeira, passou a comandar definitivamente o grupo. Durante muitos anos foi mestre de reisado e guerreiro, em Chã Preta, sempre ao lado do Professor Pedro Teixeira, com quem percorreu quase todo o território nacional, em festivais e encontros de cultura popular.

Com suas bonitas rimas e o gingado do seu bandeiro, destacou-se no cenário cultural de Alagoas, sendo citado pelo mestre Ariano Suassuna como “um dos maiores poetas populares que já conheci”.Dentre as composições mais apreciadas está o belíssimo pagode gravado pelo cantor alagoano Wado e pelos grupos “A Barca” e “Comadre Fulozinha”

 “Deus Corrige o Mundo com o seu dominamento, sei que a terra gira com o seu grande poder.”

“A terra deu, a terra dá, a terra cria
A terra cria, a terra deu, a terra dá
A terra fica, movimenta, a terra há
A terra acaba com toda nossa alegria
A terra acaba com o inseto que a terra cria
Mas, nascendo na terra, nessa terra há de viver
Morrendo na terra, pra nesta terra é de comer
Tudo que vive nesta terra pra esta terra é alimento
Nosso Deus corrige o mundo com o seu dominamento
Sei que a terra gira com o seu grande poder”

E segue como o chamado pagode de “dez versos cruzados”:

“O homem nasce não sabe como se cria, quando se cria não sabe o dia que há de morrer”

“O homem nasce não sabe quando é que canta
Quando canta não sabe o que é que ta dizendo
O homem nasce não sabe o que vem trazendo
Quando ele traz não sabe uma coisa que lhe adianta
O homem nasce não sabe o que planta
Quando ele planta não sabe o dia que vai colher
O homem nasce não sabe o que vai vender
Se ele vende não sabe se encontra covardia
Por isso o homem não sabe como se cria
Quando se cria, não sabe o dia que vai morrer”

Fez parte do projeto “Índio Peri, do SESC Alagoas, um encontro da cultura erudita com a cultura popular, apresentando-se do sul ao norte do Brasil, durante quarenta dias e em 2007 foi contemplado com o premio de Culturas Populares “Mestre Duda, Cem Anos de Frevo”, do Ministério da Cultura.
Suas rimas estão gravadas em um CD “Mestre Verdelinho das Alagoas”, “Universando”, Coleção Musica Popular Alagoana, Vol.II, juntamente com o som do seu pandeiro.

Mestre Verdelinho faleceu no dia 18 de março de 2010, em Maceió/AL e foi sepultado no Cemitério Santo Antônio, no bairro de Bebedouro, onde residia. Seu filho mais velho, Josenildo, faz sua ultima homenagem com rimas tiradas da saudade pela perda do pai:

              “Meu Pai”
Conhecido com seu nome de artista
Mestre Verdelinho de coração ensinou
A mim e a meu irmão
O tropé e a pesada do artista
Com uma voz admirada e nunca vista
E ele nunca freqüentou uma escola
O repente é tirado sem demora
E assim todos podem admira-lo
O meu Pai me criou fazendo calo
Nas ferrugens da corda da viola.

Mario Verdelinho, mateu, mestre do guerreiro alagoano e embolador, foi um artista popular reconhecido pelo seu talento e versatilidade. Pedro Teixeira, folclorista, sempre solicitava o seu trabalho, por sua maneira fácil de conduzir os folguedos e agradar o público que gosta e acompanha a nossa cultura. Devido a problemas de saúde Mario Verdelinho, faleceu em Maceió, no dia 18.03.2010, deixando muitos admiradores. Seu nome será lembrado pelos mestres por sua maneira e talento com a arte popular. Que Deus o tenha e o conduza a vida eterna ao lado dos que vieram trazer alegria ao nosso povo.

 Fonte: NOVAES, Josefina Maria Medeiros. ASFOPAL – Associação de Folguedos Populares de Alagoas – 25 Anos Brincando Sério. Maceió

 

 

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