A Chegança segundo o folclorista Théo Brandão é um folguedo natalino, um auto marítimo, “a Versão brasileira, ou melhor, nordestina das Mouriscadas da Península Ibérica e das Danças Mouriscas da Europa”.
No passado, o folguedo era apresentado em uma barca, feita de “taipa”, construída nas praças ou em locais de festas natalinas, aonde o folguedo iria se apresentar. Hoje em dia já não existe mais esta estrutura. As apresentações acontecem em palanque comum ou em locais planos.
Os figurantes vestem-se como a marujada de acordo com a patente que representam: Almirante, Capitão de Mar e Guerra, Mestre Piloto, Mestre Patrão, Capitão Artilheiro, Calafate, Imediato, Gajeiro, Capitão de Fragata, Marinheiro e o Padre.
As músicas são acompanhadas por dois ou três pandeiristas, único instrumento musical do folguedo.
As partes são chamadas de “embaixadas”, onde louvam o Menino Deus, a Virgem Maria ou a Padroeira do local. Narram também os acontecimentos e dificuldades ocorridos na viagem ao mar, como as tempestades, a batalha contra os mouros, a partida e a chagada ao porto.
A Chegança “Silva Jardim” existe há muitos anos. Os moradores da cidade de Coqueiro Seco – Alagoas, não sabem o período exato do seu surgimento. Contam que o grupo era organizado para dançar nas comemorações e festas do Natal, sendo dissolvido após os festejos.
Dona Luzia Simões, aos seus 74 anos de idade, relata que começou a dançar na adolescência e que em 2001, depois de uma gincana com os alunos das escolas municipais sobre folclore, surgiu a ideia de reativar as brincadeiras formando os grupos de chegança e de pastoril. Com alguns alunos e pessoas da comunidade local, foi criado então o grupo preservando o antigo nome do passado. Composto de pessoas de ambos os sexos, de diversas faixas etárias, tendo em média um total de 40 a 45 figurantes.
O grupo já se apresentou em vários locais e cidades próximas, durante as comemorações e festas religiosas ou cívicas, semana do folclore, em colégios e feiras.
Em 2003, o grupo participou da gravação de um DVD com o músico e compositor Antônio Nóbrega, na cidade do Recife (PE).
Recebeu em 2007 o Prêmio Culturas Populares – Mestre Duda, do Ministério da Cultura. Esta premiação resultou na gravação do CD “Chegança Silva Jardim”, que contou com a produção de Carmen Omena (in memoriam), com o apoio do Centro de Difusão e Realizações Musicais do SESC Alagoas, da FECOMERCIO/AL, do Atelier Casa 50 e da Prefeitura Municipal de Coqueiro Seco.
O sonho da mestra Luzia, foi realizado para a sua alegria e dos brincantes. Dedicou a maior parte de sua vida pela cultura raiz, Luzia Simões foi mestra de chegança e pastoril. Faleceu em 03 de fevereiro de 2010, aos 77 anos de idade. Hoje, quem comanda o grupo é dona Lucimar, que mora na cidade.
Fonte: Asfopal – Associação dos Folguedos Populares de Alagoas e www.cultura.al.gov.br/Secult
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.