Cavalo-marinho

Na Zona da Mata Norte de Pernambuco, nos intervalos do trabalho na lavoura de cana, inventou-se uma brincadeira. Misto de teatro, música e dança, o cavalo marinho é festa de terreiro.

Brincantes do Cavalo-marinho

Versão para o boi de terreiro, o brinquedo só existe na Zona da Mata Norte de Pernambuco e na Paraíba. John Patrick Murphy, no livro Cavalo-marinho pernambucano, mostra duas hipóteses para a adoção do nome do folguedo. Ele lembra que em várias versões da brincadeira aparece a frase “Cavalo Marinho dança muito bem”, que, segundo ele, se referiria a um cavalo importado do além-mar, Portugal. Outra hipótese seria a da adoção do sobrenome de um grande Capitão da Capitania Hereditária da época colonial, na região.
A brincadeira é composta por música, dança, poesia, coreografias, loas, toadas e reúne cerca de 76 personagens, todos vestidos com máscaras, fitas, espelhos. Eles estão divididos em três categorias: animais, humanos e fantásticos. Destaques para o Capitão Marinho, Mateus, Bastião, o Soldado da Guarita, Empata Samba, Catirina e Mané do Baile.

A partir de julho já começam as apresentações do folguedo, que se estendem até o dia seis de janeiro (Dias de Reis). As execuções sempre variam em relação às cenas. Murphy aponta que a versão de Mestre Salustiano é dividida em três partes, todas marcadas pelo humor, que é o principal elemento da brincadeira. Na primeira há um embate entre vaqueiros e o personagem do “capitão”, pela posse do engenho. O capitão vence a disputa e faz da brincadeira sua festa. Mateus e Bastião, ambos apaixonados por Catirina, são contratados para tomar conta da festa em homenagem aos Santos de Reis. Na segunda parte, há uma negociação com o capitão e na terceira chega o boi e Matheus o mata. Fazem o funeral do animal e depois o ressuscitam.

Os brincantes, geralmente trabalhadores do cultivo de cana fazem apresentações nos engenhos ou sítios, na rua, em festas de santos padroeiros. Na encenação, o diálogo se alterna com a música, que é o fio condutor de toda a trama, há um vocalista principal e outros de apoio, que são acompanhados pelo “banco”, cujo instrumental é formado por rabeca, pandeiro, bagé, canzá ou reco-reco e ganzá. Os passos são rasteiros, para levantar poeira, intercalados com saltos rápidos, vigorosos. As sambadas varam a noite, pois uma apresentação completa dura em torno de oito horas, sem intervalos.

Fonte de pesquisa: www.cultura.pe.gov.br

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