O tambor de crioula é uma dança popular maranhense de origem africana e foi reconhecida em 2007, como Patrimônio Imaterial Nacional. Não se sabe ao certo a data do seu surgimento. No passado era praticada somente pelos homens, pois era muito violento. Com regressão policial, acredita-se que a mulher começou a ter o seu espaço, utilizando a punga de barriga (encontro 40 do ventre com ventre). Talvez até como forma de sobrevivência da manifestação, pode-se encontrar ainda a participação de homens na dança. Ferretti comenta que o Tambor de Crioula:
É uma forma de ritual de divertimento, pagamento de promessas, é uma forma de ritual de comunicação de pessoas entre si e com o sobrenatural e, ao mesmo tempo, é uma forma de ritual de reafirmação de valores dos negros do Maranhão. (FERRETTI, 1995, p.24).
Os negros africanos conseguiram, através da resistência, preservar esses valores culturais dentre os quais, os rituais religiosos que são cultuados até hoje.
VERGE apud. FERRETTI (1995, p. 25) comenta que:
A casa das minas teria sido fundada por membros da família real Abomey vendidos como escravos para o Brasil no reinado de Adonzan (1797 -1818) sendo portanto uma das mais antigas casas fora da África em que são cultuados vodus da família real de Abomey.
Nas apresentações do Tambor de Crioula, podemos observar como é nítida distinção entre os tambores e seus rituais, mas existe uma forte relação religiosa entre ambos.
O Tambor de Crioula incorpora a prática do catolicismo popular e das religiões afro maranhenses, pela qual se caracteriza a atividade ritual lúdica religiosa que tem como destaque a punga ou umbigada.
Sobre essa perspectiva FERRETTI (1995, p.29) conclui que:
A nosso ver as influências recebidas por estas religiões, não decorrentes de uma hipotética e discutível plasticidade original, mas, sobretudo impostas aos negros escravizados, mantidos em situação de inferioridade social.
É praticada em louvor a São Benedito, às vezes em pagamento de promessa, que consiste no lado religioso da festa. Pode ser realizada por vários outros motivos, tais como festa para comemorar aniversário, chegada de amigo, de parentes, ou mesmo vitória de time de futebol.
Não existe um dia específico para dançar o Tambor de Crioula, que pode ocorrer em qualquer época do ano, embora tenha freqüência maior durante o carnaval e festejos juninos.
De acordo com a citação de FERRETTI (1995, p. 50):
Nunca ouvi dizer que existe um dia determinado para a dança do tambor de crioula. (…) sempre assistia essa dança como pagamento de promessa para São Benedito. Eles faziam promessa para o santo, e depois que alcançavam a graça, marcavam a data de acordo com suas possibilidades e davam a festa. Nesse tempo não se via Tambor de Crioula nem em São João e nem no carnaval. Tudo isso parece coisa mais recente.
A animação é feita por um canto puxado pelos homens com acompanhamento das mulheres, as coreiras. Um brincante puxa a toada que é acompanhada por um coro composto de instrumentistas e mulheres, compondo o refrão para os improvisos que se sucederão.
As dançantes se apresentam individualmente no interior de uma roda formada por elas e é nesse momento que encontramos sua particularidade principal: a punga. Trata-se de uma umbigada que ocorre quando a brincante que está no centro deseja sair, então ela se dirige a uma outra, toca-lhe com a barriga e a que estava na roda vai para o centro continuar a brincadeira.
A marcação é feita através de um conjunto de tambores que recebe o nome de parelha. São três tambores de tamanhos diferentes: pequeno, médio e grande, feitos de troncos de mangue, pau d’arco, soró ou angelim. O tambor pequeno é chamado crivador ou pererengue, o médio é o meião, chamador ou socador, e o grande é chamado de roncador ou rufador, sendo que este último recebe batida com um par de matracas que auxiliam na marcação.
Os tambores são bastante rústicos, feitos manualmente de troncos cortados nos três tamanhos e trabalhados exteriormente. O tronco é trabalhado a fogo com auxílio de instrumentos de ferro para que fique oco.
A cobertura do tambor é feita com o couro de boi, veado, cavalo ou tamanduá. Depois da cobertura, é derramado azeite doce no couro que fica exposto ao sol para enxugar e atingir o ponto de honra, quando é considerado totalmente pronto. A afinação dos tambores é feita esquentando o couro.
Fonte de pesquisa: UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE TURISMO LENNO SOUZA LOBATO BUMBA MEU BOI DE MORROS: no contexto do turismo cultural de São Luís
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.