Poeta Pedro Bandeira de Caldas, Matuto do Pé Rachado
04/03/2021
Pedro Bandeira de Caldas, principe dos poetas
A Poesia de Pedro Bandeira difere da poesia clássica, literária, estilizada de perfeicionismo estético, porque enquanto esta é arrancada a muque de cérebro, depois de longas horas de reflexão, de meticulosos estudos de técnica artística, castigando os versos com cinzel, poluindo aqui, adelgaçando alí, enfeitando as formas externas, mas desnudando a poesia da alma, de vibratilidade, de idéias; aquela é como as águas das vertentes da Chapada do Araripe, que brotam naturalmente, em torrente de águas puras, límpidas, cristalinas, escachoantes. Não é poesia, anêmica, amorfa, clorótica, descolorida como bolor de escritório, de gabinete, mas poesia morena, bronzeada, queimada de sol, agreste, rude como o sertão, mas espontânea, vibrátil, alegre e irreverente.
Outra cousa é água que jorra das fontes como o sangue das nossas veias, e outra água, que pinga gota-a-gota de uma torneira, aprisionada e condicionada à camisa de força dos canos e a impulsão mecânica dos motores. Outra cousa é a flor que abre as sua corolas perfumadas nos campos e nos jardins, e outra bem diferente aquelas acasteladas em estufa.
Para Bandeira, violeiro, repentista, cantador de desafio, basta um violão, um luar prateado, uma pequena plateias que dos seus lábios, da sua garganta de graúna sertaneja, brotam carradas de improvisos, onde cada verso é uma sentença, é um universo de sabedoria, é um epigrama satírico, que queima como sinapismo da mordacidade; onde numa simples frase traduz um infinito de emoções, de sentimentos, de sabedoria.
Eu planejava fazer o prefácio de “Matuto do Pé Rachado”, entremeando os meus comentários e destaques com os versos de Pedro Bandeira, mas fui traído pelas emoções, pela embriaguez onírica de cada frase batida da máquina, e quando cheguei a essa altura, já não posso recuar, nem ir mais adiante. O jeito é fazer como leiloeiro: “dou-lhe uma; dou-lhe duas; dou-lhe três. Prego batido !
Mas vou mais além. No livro de Pedro Bandeira: dou-lhe dez ! Se me fora outorgado o direito de ter escolhido a minha vocação literária, o meu destino artístico, eu preferiria ser violeiro, repentista, cantador de desafio, poeta e glosador como Pedro Bandeira, para sair como um louco, mundo afora, acendendo fogueiras de iluminações, braseiros de fulgurações, labaredas de emoções, na alma e na sensibilidade do povo, como Deus que jogou um punhado de estrelas nos céus, um bocado de flores matizadas e coloridas como tapete mágico sobre a terra.
Conta-se que Alexandre Magno, o maior imperador de todos os tempos, visitando Atenas, quis conhecer Diógenes, e acompanhado de numeroso e quanto deslumbrante cortejo foi ter ao tonel, onde morava o mais arguto impenitente filósofo grego. Ao sair dali, depois de ter ouvidos embevecido de tanta sabedoria, tantos conhecimentos, tanta profundidade de conceitos, proferiu estas palavras memoráveis: “Se eu não fosse Alexandre Magno, desejaria ser Diógenes”.
Lendo as poesias de Pedro Bandeira não contive as águas represadas do Orós que está dentro de mim. Romperam-se todas das vaidades e ufanias pessoais, todo narcisismo do meu egoísmo, para declarar “uti et orbi”: Se eu não fosse Padre Antônio Vieira desejaria ser Pedro Bandeira.
Prefácio do Padre Antônio Vieira, Varzea Alegre – CE
Fonte de pesquisa: Livro de poesias “Matuto do Pé Rachado”, do poeta Pedro Bandeira de Caldas. Juazeiro do Norte 2004
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.