Pedro Oliveira nasceu cego. De família pobre, foi pedinte de esmolas durante muitos anos, no Crato, onde nasceu em 1912, e no Juazeiro do Norte, até receber de seu tio um presente que mudaria sua vida: uma Rabeca. Foi aprendendo a tocar sozinho, e começou a cantar romances e cordéis com a ajuda do irmão, que lia para ele os versos. Cego Oliveira, como ficou conhecido, foi um representante de um estilo musical pouco conhecido e em vias de extinção: o romance.
Os romances remontam à Europa medieval, e contam histórias -por vezes bastante longas- em forma de versos com estrofes e rimas intrincadas. Oliveira declarou já ter possuído um repertório de nada menos que 75 “rumances”, dentre os quais o famoso “Romance do Pavão Misterioso” e “A verdadeira história de João de Calais”.
Cego Oliveira, tal qual um menestrel Ibérico, percorria praças e feiras desfiando sua cantoria e ponteando sua rabeca a troco de moedas e dinheiro miúdo dos ouvintes, em sua maioria, gente humilde do sertão do Ceará, cuja única diversão era ouvir velhos cantadores. A popularização do rádio foi aos poucos acabando com o espaço de Oliveira e outros vates da época, que passaram a sobreviver tocando em velórios, batizados ou aniversários.
Filmografia
Cego Oliveira foi tema de dois curtas-metragens: Cego Oliveira: no sertão do seu olhar (1998), de Lucila Meirelles e Oliveira: o cego que viu o mar (1999), de Rosemberg Cariry. Ele aparece, ainda, em Jornal do Sertão, de Geraldo Sardo (1970); Cobra Verde, do cineasta alemão Werner Herzog (1987); Os romeiros do Padre Cícero, de Eduardo Coutinho (1994); e em O homem que engarrafava nuvens, dirigido por Lírio Ferreira (2009).
Em 1975, Cego Oliveira foi filmado pela diretora Tânia Quaresma no documentário “Nordeste: Cordel, Repente e Canção”. Teve sua obra gravada no LP de mesmo nome, cuja capa é reproduzida no topo desta postagem. Mais recentemente, em 1999, a coleção musical “Memória do Povo Cearense” lançou um volume totalmente dedicado à obra do artista popular.
Discografia
Cego Oliveira: rabeca e cantoria. Cariri Discos. (1992) * Cego Oliveira. Memória do Povo Cearense. Volume II (1999).
É interessante notar a posição com que toca sua rabeca, apoiada sobre os ombros, e o fraseado simples, utilizando os harmônicos naturais das cordas. Observe também a influência da cantoria de viola, onde o cantador pare de tocar o instrumento enquanto canta, fazendo-se acompanhar de marcação rítmica batucada no próprio corpo do instrumento.