Manifestações Religiosas

Procissão de Nossa Senhora da Piedade – Anadia

Por meio de suas festas tradicionais, as comunidades estreitam seus laços e mantêm sua identidade como grupo, celebrando também sua vida cotidiana. Desde os tempos remotos, o homem primitivo já possuía uma relação de fé com o divino, ele pedia aos deuses proteção e colheitas fartas, muitas vezes usando comida, bebida, música e dança como oferendas. Com o cristianismo, a Igreja Católica transformou alguns desses rituais pagãos em homenagens aos santos, conferindo a eles um caráter sagrado de acordo com os princípios cristãos. Assim surgiram as manifestações ou festas religiosas, rituais de explicitação das relações entre os grupos sociais.

Na realidade, a primeira forma de expressão dos grupos populares não foi a escrita, e sim o domínio da dança, de cânticos rimados para facilitar a memorização, as lendas, ditados, culinária. É dessa forma que o povo escreve suas memórias, seus valores, seus códigos de regras, suas crenças, suas angústias pelo árduo trabalho, suas esperanças e fantasias e de igual modo se manifestam.

Assim, para o Professor Jadir de Morais Pessoa, autor do livro “Saberes em Festa: gestos de ensinar e aprender na cultura popular”, a festa visa marcar em cada membro do grupo social os seus valores, as suas normas, as suas tradições; ao mesmo tempo em que se transforma sempre num grande balcão, numa grande demonstração das inovações, das mudanças, das novas descobertas, das novas concepções e, porque não dizer, da fecundidade das transgressões (PESSOA, 2005, p.39)

A história das festas religiosas tem início com a chegada dos Jesuítas no Brasil, que marca o começo da evangelização no Nordeste. Este grupo traz a representação da figura histórica do Padre José de Anchieta na evangelização dos primeiros habitantes, os índios. Com a mistura de povos começam as manifestações religiosas de cada raça: o índio com adoração ao deus Sol, à Lua, à Terra ao deus Trovão e a todos os seres da Natureza; os brancos com a realização de missa, sacerdócio, apego à Bíblia, crucifixos e veneração aos santos e os negros com o culto aos orixás, tambores e vestimentas coloridas.

 A maioria das festas populares tem, assim, origem ibérica, africana e indígena e segue as datas do calendário católico. São comuns nas festas populares baseadas no calendário religioso manifestações de sincretismo afro-cristão, que fundem os orixás do candomblé com os santos católicos.

No Ceará, a festa principal é a festa de Padre Cícero, que é idolatrado em todo o Nordeste, o padre milagreiro e reverenciado a cada dia com uma nova romaria. O fanatismo pelo santo construiu a cidade de Juazeiro. A segunda maior cidade do Estado virou manjedoura de missas, procissões, rezas, peregrinações e festas folclóricas em homenagem ao eterno “Padim Ciço”, como os seguidores o chamam. Além dessa festa, há também a devoção a São Francisco das Chagas, na qual centenas de fiéis viajam em ônibus ou nos famosos “paus-de-arara” para pagar promessas e reverenciar o seu santo protetor.

No Rio Grande do Norte, Santa Luzia é a principal festa popular religiosa. Sua procissão reúne mais de 130 mil devotos. A cada ano, a participação de romeiros de municípios do Rio Grande do Norte e Estados vizinhos é aumentada, ou seja, cresce o turismo religioso. No Piauí Santa Cruz dos Milagres é a cidade de terceiro destino de maior visitação religiosa do Nordeste. O santuário de Santa Cruz dos Milagres, a 181 km de Teresina, é o único do Estado reconhecido pelo Vaticano para peregrinações. Todos os anos milhares de fiéis vão à Santa Cruz dos Milagres para pagar promessas e pedir novas bênçãos. Ainda no Piauí há a Roda de São Gonçalo, que é dançada em todo o Estado e faz parte do novenário em homenagem ao santo violeiro, daí o seu caráter estritamente litúrgico-religioso.

 Duas fileiras de homens e mulheres se colocam em frente ao altar do santo. Movimentam-se em forma de círculo, em forma de “cruzeiro” (cruz), reverenciando o santo e beijando o altar. O canto vai acompanhado de rabeca, violão, pandeiro e, às vezes, zabumba.

Já a Festa do Divino é uma das manifestações religiosas mais ricas do Maranhão. As mais famosas são as que acontecem no eixo São Luís – Alcântara. Apesar das claras influências africanas, várias características se mantêm, como a representação do imperador que preside os rituais durante todo o tempo, a missa, a procissão e a partilha de alimentos. Outra manifestação importante do Maranhão é o terreiro, lugar onde são cultuados voduns e orixás, gentis e caboclos. Também são realizadas festas e rituais populares como a Festa do Espírito Santo, Queimação de Palhinhas do Presépio, Batismo.

 Em Sergipe acontece a louvação a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, ambos padroeiros dos negros no Brasil. Tocando quexerés (instrumentos de percussão) e tambores, as Taieiras (Grupo de forte característica religiosa), trajando blusa vermelha cortada por fitas e saia branca, seguem pelas ruas cantando cantigas religiosas. Este evento é definido como uma das mais claras demonstrações de sincretismo, com santos e rainhas, procissões e danças misturados num momento de celebração.

Na Bahia, a Lavagem (das escadarias da Igreja) do Bonfim, que acontece em janeiro, é a mais importante festa religiosa do estado. A Festa inicia-se com cortejo de baianas vestidas tipicamente que caminham desde a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o alto do Bonfim, carregando água de cheiro e despejam seus vasos no adro da Igreja e sobre as cabeças dos fiéis.

 Muitas manifestações religiosas são realizadas nos estados nordestinos, inclusive em cidades do interior e em municípios, mas, apesar de algumas festas compartilharem o mesmo tema, em cada lugar elas assumem características próprias, de acordo com a tradição regional. Outrossim, há que se pensar que as festas tradicionais da cultura popular também estão sendo afetadas pelas transformações da comunicação e pela reorganização do mercado.

Matéria de Leonardo Assunção1, Bião Almeida2, Poliana Ribeiro Alves3, Mirela Souto Alves4, Ana Luisa de Castro Coimbra5, Karen Vieira Ramos6.

Fonte: www.19376.pdf

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