Literatura de Cordel: Alteração do número de sílabas

Poeta Pedro Ernesto Filho

Existe na gramática permissão para alterar o número de sílabas de algumas palavras quando da necessidade de metrificar um verso. Esta licença poética chama-se metaplasmo e consiste em acrescentar ou suprimir fonema de um termo, ajustando a linha do poema ao número de sílaba desejado. Quando suprime sons, ganha nomes diferentes, dependendo do local de onde se exclui a sílaba, no princípio, no meio e no fim do vocábulo. No princípio, aférese; no meio, síncope; no fim, apócope. É exemplo de aférese – inda, por ainda; de síncope – cuidoso, por cuidadoso; de apócope – mui, por muito. Ao inverso dessa prática, isto é, o acréscimo de sílaba a uma palavra, dá-se, respectivamente, o nome de prótese, epêntese e paragoge.

Os versos podem estar certos na medida, mas podem não ter melodia agradável. Por isto é recomendável evitar as palavras de difícil encaixe, que são as de pronunciação custosa. Evitem-se, igualmente, as cacofonias, intoleráveis na prosa e muito mais nos versos. Assim também os hiatos (diérese forçada). Para pôr em prática toda esta teoria é indispensável habituar o ouvido à cadência dos diferentes metros, principalmente do de sete e dez sílabas, o mais usual na poesia popular. O melhor, para fixar o ritmo na memória, é procurar uma modalidade de cantilena para cada espécie, obrigando as pausas e os tempos a firmemente se caracterizarem. Uma vez ajustada ao verso a toada musical, nenhum verso sem medida certa escapará ao metrificador.

E aqui vale lembrar a frase dita pelos admiradores do verso popular: “O bom cordel se conhece cantando”.

O BOM CORDEL DEVE TER
RIMA E METRIFICAÇÃO

Cordel tem que ser versado
ter cadência e ser completo,
mantendo em seu objeto
as raízes do passado,
onde o autor com cuidado
expresse a sua emoção,
tirando da inspiração
o que o povo quer saber
– O bom cordel deve ter
rima e metrificação.

Graças à força do estudo
do grande mestre Hugolino,
dando ao cordel um destino
de nobreza e conteúdo;
hoje, cordel não é tudo
que se pendura em cordão,
precisa ter oração,
ser bom de cantar e ler
– O bom cordel deve ter
rima e metrificação.

Matéria como tal pode ser encontrada nos livros Cidadania do Repente e Por Dentro da Cantoria, ou ainda no site: www.perfilho.prosaeverso.net

Fonte: Poeta cearense Pedro Ernesto Filho

RÁDIO CORREIO AM 1200 - MACEIÓ