A lenda do Gogó da Ema

O Lendário Gogó da Ema

A lenda do Gogó da Ema segundo relato de Maria Aída Wucherer Braga, professora de música e uma das responsáveis pela criação, em 1956, do Conservatório de Música de Alagoas.

Era uma vez uma índia morena, virgem de corpo e de coração.

Habitava a taba dos guerreiros caetés, tecia redes e se enfeitava de penas. Mirava o rosto nas águas claras da lagoa e corria pela mata, ouvindo o grito da araponga e respondendo ao canto da cauã.

Um dia ouviu-se um brado de guerra e os guerreiros partiram manejando os tacapes.

Os arcos retezados expediam flechas e eram tantas que se confundiam no ar.

Três sois lutaram sem descanso e sem cansaço. Ao alvorecer do quarto dia voltaram triunfantes.

Entre os troféus, traziam preso um inimigo. Começaram os festejos. O indio era forte e era belo. Não queria ser sacrificado. Pediu para lutar e venceu três embates.

Não se mata um herói entre os índios. Só os civilizados têm medo da coragem e do heroísmo dos outros.

A virgem caeté apaixonou-se pelo índio prisioneiro e fugiram na calada da noite.

Andavam sol a sol. À noite deitavam-se na terra e suas bocas sedentas de água e sedentas de amor se encontravam na escuridão. Recomeçavam a caminhada com a aurora.

A índia definhava. Seus passos já não eram ágeis, seus membros pesavam, seus olhos ofuscados pela claridade dos dias de sol procuravam a terra e a cabeça pendia-lhe no peito.

E a marcha prosseguia em busca de outras terras.

Um dia viram água, muita água. Era a imensidão do mar.

Exausta, ela se deitou na beira da praia deserta. Suas forças chegavam ao fim.

Desesperado, ele pediu a Tupã que o transformasse em uma árvore cujo fruto tivesse água doce para matar a sede à sua amada, polpa para mitigar-lhe a fome, óleo para untar seus pés cansados e palmas longas para abrigar na sombra seu corpo franzino.

Tupã atendeu. Transformou-o em coqueiro, o primeiro coqueiro que houve sobre a terra.

Na ânsia de crescer, ele elevou o tronco muito acima das areias brancas e ela não alcançou seus frutos pendentes.

Então, num esforço gigantesco, ele se curvou para a praia, abaixando o tronco poderoso.

A índia já não resistia. Com as mãos estendidas para colher os frutos de água doce e polpa macia, sua alma voara em direção às nuvens.

Novamente, num esfoço supremo, ele movimentou o tronco para o alto e ergueu a copa verde carregada de frutos para o céu.

Até morrer ele ficou ali numa praia de Alagoas, embalando nas palmas adejantes, a alma fugitiva de sua amada.

por Henrique Méro

(Fonte: edição nº 11 do Boletim Alagoano de Folclore, de 1987)

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