Grupo formado por homens vestidos de anáguas de renda completamente branca, eles realizam movimentos em 360º sobre si mesmos, no sentido horário e anti-horário dessa forma parecendo a “volta” de um parafuso. Formado pelo padre José Saraiva Salomão, a origem do grupo remonta o ano de 1897. O grupo faz alusão à fuga de escravos das senzalas.
Muito já se escreveu (e ainda é pouco) sobre o folclore brasileiro. A cultura popular é de uma riqueza inestimável para o Brasil. Insuficientes são as teses da Escola de Frankfurt sobre a diferenciação entre cultura popular, de massa e cultura de elite. A cultura popular ainda está no âmbito de pesquisas inacabadas, essa viva manifestação é a maior representação da formação do povo brasileiro e sua miscigenação.
A miscigenação brasileira se deu não somente à colonização, mas aos índios que na antiga Ilha de Vera Cruz habitavam, tanto quanto aos escravos que de suas famílias foram retirados. O folclore brasileiro é essa mistura de povos e tradições, como é o caso do Grupo Parafusos, da cidade de Lagarto no estado de Sergipe.
Durante o período de escravidão muitos escravos que fugiam das senzalas faziam quilombos no meio da mata tentando se refugiar dos feitores e capitães do mato. Durante o período de lua cheia, eles saiam para “roubar” comida dos engenhos. Durante a volta para os quilombos eles pegavam as roupas das sinhazinhas que ficavam penduradas em varais. As indumentárias eram feitas de renda e com muito bordado, escolhidas pelas filhas dos senhores de engenho. Os escravos pegavam todas elas e começavam a colocar peça sobre peça, dessa forma até atingir sua cabeça. Com o corpo coberto de panos brancos, eles saiam pulando e fazendo voltas durante o luar. As pessoas que viam os escravos imaginavam serem assombrações e não tentavam recuperar suas coisas “roubadas”.
Depois de passado o período de escravidão, os ex-escravos saiam às ruas com as vestimentas rodopiando em tom de total zombaria com os seus antigos senhores de engenho. Naquela época existia na cidade de Lagarto uma população de 5.145 livres/1.646 escravos. O movimento permanece até os dias atuais e é um dos mais belos espetáculos de dança folclórica do estado de Sergipe.
Por Edivan Santos, colunista, poeta, escritor.