Quilombo de Limoeiro de Anadia, Alagoas

O colorido do Quilombo de Limoeiro de Anadia

Artistas caboclos, mulatos, cafusos dos  litorais ao sertões nordestinos. Devotos ou boêmios, sizudos ou brincalhões, quem são esses homens que tocam para o seu povo? Muitas vezes o  tocador é também o artesão que encontra no caule da taquara a sonoridade ideal para dar alma ao instrumento. De acordo com José Maria Tenório,  “os grupos, os folguedos alagoanos, se mantêm vivos fundamentalmente por causa do amor e empolgação dos “mestres” – figuras mais velhas dos grupos. Eles criam novas músicas, tocam instrumentos e ensinam a tradição aos novos adeptos do folguedo”. Constata-se na atualidade  uma preocupante redução do número das bandas de pífano. Há  poucos instrumentistas prontos para ocuparem o lugar dos mestres que estão saindo de cena por morte ou pelo avanço da idade.

Os mestres  algumas vezes  ganham esta alcunha por desenvolverem um trabalho individual com grande competência e apuro técnico.No filme documentário PIFANOS E PIFEIROS há a participação dos principais  pifeiros alagoanos tais como: Chau do Pife (Maceió), Mestre Bia (Viçosa), Mestre Rosalvo (Arapiraca), Mestre Argemiro (Limoeiro de Anadia), Mestre Gama (Maceió), José Cícero (Marechal Deodoro).

Diante da necessidade de resgatar a cultura do Quilombo de Limoeiro de Anadia, que estava um pouco esquecida, junto ao mestre Nelson do Quilombo adulto de Limoeiro de Anadia, comunidade e alunos começamos timidamente um projeto visando o resgate da cultura desse folguedo alagoano, formando um grupo mirim. Os desafios são muitos, mas a parceria entre a comunidade e mestre Nelson foi fundamental para o sucesso desse grupo que vem se apresentando em todo estado de Alagoas.

História do Quilombo

É um trabalho de pesquisa que estou realizando com o grupo de Quilombos de Limoeiro, sobre a origem desse grupo no município. Essa pesquisa tem me dado fortes indícios da ligação entre o Quilombo de Limoeiro e o Quilombo dos Palmares. É certo que essa dança chegou em nossa cidade no século XIX, através de um negro escravo chamado Forro, foragido de Palmares, aqui conhecido como João Gruta, ao se estabelecer em Limoeiro, passou a ensinar essa dança aos habitantes da nossa cidade.

O Quilombo, na realidade, é uma luta disfarçada de dança, onde seus componentes nos remetem à história do Quilombo dos Palmares, pois temos no folguedo negros, brancos e índios. Nessa luta os brancos acabam vencendo os negros. Existe também o rapto da rainha, há relatos que trata-se de uma moça branca, rica, filha de um senhor de engenho de Porto Calvo – AL, que teria sido roubada pelos negros de Palmares como forma de adquirir recursos para manter o Quilombo. Existe também uma versão de que essa rainha era uma moça branca por quem Zumbi teria se apaixonado e a levado para viver com ele no Quilombo, isso são alguns fatos que fazem parte de minha pesquisa.

O grupo tem vestimentas com muito colorido, chama a atenção pela beleza de suas cores e ornamentação. É formado por dois lados, vermelho e azul. O vermelho representa a nobreza, e o azul os negros. Ainda fazem parte do grupo caboclinhos, índios, que segundo a história se alinharam a Domingos Jorge Velho, tornando-se soldados que invadiram o Quilombo. Outra figura muito divertida é a Catirina (homem vestido de mulher), trata-se da história de uma negra, esposa do caboclo Francisco, que quando estava grávida teve o desejo de comer a língua do boi do seu patrão, essa personagem como os capitães (homens vestidos de branco) e os mateus (roupas de chita) foram incorporados à dança do quilombo por influencia de outros folguedos alagoanos.

O que nos leva a concluir que foi uma forma de disfarçar o verdadeiro sentido da dança do Quilombo, uma vez que a mesma era proibida, pois no início da dança do Quilombo esses personagens não existiam, só existiam o lado vermelho e azul (que lutam com a espada), a rainha e os índios.

Pesquisadora do folguedo no município: Mônica Maria Silva, professora de História e responsável pelo grupo Quilombo mirim de Limoeiro de Anadia. Escola de Educação Básica Senador Rui Soares Palmeira.

Fonte: www.escolaespacodeculturas.blogspot.com

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