Palhaço Meloso: vida de circo e de espetáculos com seu pastoril profano
17/12/2020
Menino inteligente, não demora muito e conquista um serviço mais leve. “O circo também apresentava teatro e por isso, era chamado de Circo Teatro José Bezerra. Como faltou um ponto, eu assumi o seu lugar. No teatro daquela época tinha uma função chamada de ponto, que era a pessoa que ficava com o texto, auxiliando com a voz baixa os atores, quando do esquecimento do texto ou no momento de nova entrada de voz do segundo ator. Era quem passava todas as dicas”. Tendo boa leitura e voz de timbre forte, pela falta do locutor do carro volante do circo que anunciava pelas ruas as atrações do Circo Teatro, é chamado para substituí-lo.
Como no circo todo mundo faz de tudo, continua no ponto, na locução do carro de som volante, mas com o salário de cavador de buraco, o que faz trocar de circo por uma melhor remuneração e valorização artística. Conquista novo emprego no circo pernambucano Luzo Brasileiro. “ O circo estava precisando de um ponto e pagava o dobro do que recebia no José Bezerra. Além do ponto, fazia locução no carro volante. Fiz minha estreia como locutor de palco na cidade de Santa Luz, no interior da Bahia. “ Respeitável público, nosso cordial boa noite. Bem vindo ao mundo encantado do circo. O espetáculo vai começar com o desfile de nossos artistas.”
Tanto o Circo Teatro José Bezerra como o Circo Luzo Brasileiro, eram circos mambembes. “Os circos que circulavam pelas cidades do interior e até nas capitais nordestinas, em sua maioria ocupavam aproximadamente o espaço de 30m x 40m. O Toldo era feito de pano. Também tinha o circo pano de roda que não usava cobertura”.
Pelo seu talento artístico, Idalvo passa a ser ator de teatro no Circo Luzo Brasileiro. “Fazia casos cômicos, papel de bicha, os papéis mais versáteis. Não cheguei a fazer o papel principal, mas era o ator de maior sucesso perante o público circense. Era respeitado diante do tipo que representava. Também fiz papel de corno na peça O Tarado” (risos).
No Circo Luzo Brasileiro a estreia do palhaço que passou a ser chamado de Meloso. “O palhaço do circo era o Xurupita, mas ele foi embora, justamente quando o circo já tinha estreado na cidade. Como não tinha ninguém para entrar em seu lugar e o circo não poderia ficar sem palhaço, resolveram me colocar em seu lugar. Disse que não levava jeito, mas nada adiantou. Na hora de colocar o nome do palhaço veio o nome de Meloso por parte do Teobaldo, diretor geral do circo. Naquele momento estava com 18 anos e a estreia aconteceu na cidade de Pilar, em Alagoas. Na primeira vez fiquei nervoso, na segunda me soltei e deu certo” ( risos).
Na cidade de Pilar, depois de passar três dias na cadeia é obrigado a se casar e daí pela primeira vez passa a ter documento de identificação. Como Meloso trabalhou em circos grandes como Wostok, Camarão e por último o Charles Torres, quando vem para Aracaju e resolve fixar residência em Sergipe em 1975.
Das tristezas do seu tempo em momentos no circo, a morte da primeira filha, em parto realizado numa barraca de circo instalada numa usina perto da cidade de Maribondo em Alagoas em 1970. No trabalho de circo, o tempo de 10 anos em centenas de espetáculos circenses. Atuou nas capitais nordestinas e cidades do interior da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, além de cidades do Sul de Minas Gerais, a exemplo de Teófilo Otoni e Conquista. “Uma experiência de você conhecer o mundo”.
Na nova vida profissional em Sergipe passa a trabalhar por conta própria e inicia com o espetáculo Meloso e as Garotas do Rebolado. Um projeto artístico que marcou época diante da realização de inúmeros shows em diversos circos mambembes em Sergipe e em Alagoas, principalmente nos circos Pano de Roda. Ia como atração e recebendo 50% da bilheteria. “ Cheguei a comprar um fusca velho. Ia eu e mais quatro mulheres. Fazíamos shows nos circos nas sextas, sábados, domingos e nas segundas voltava para a Aracaju. Depois conheci Clemilda e a partir daí ela passou a me ajudar e até hoje ajuda. Clemilda me arranjou um carro de som do falecido médio Silva. Juntamente com o marido, Gerson Filho pediu ao Silva que me entregasse o carro de som. Com o carro de Silva passei a viajar para fazer meus shows de quinta a segunda.
Quando retornava na terça-feira ia trabalhar para fazer os serviços do Silva como motorista em sua caminhoneta, por conta do pagamento do uso do carro de som nos finais de semana”. Revela que o show Pastoril do Meloso surgiu no ano de 1986. “Em vez de montar um grupo
folclórico, lancei e criei o Pastoril profano. O folclórico tem a mestra, a contra-mestra, o encarnado e o azul. Como o pastoril folclórico não dava para ganhar dinheiro, lancei um pastoril que apresentava as meninas com trajes sensuais. De tanguinha e com uma saia bem curtinha, dançando no meio do circo. Foi quando comecei a ganhar um dinheirinho. Antes morava num quarto de vila e fui fazendo minha vida. Até comprei uma casa própria no Augusto Franco onde estou até hoje”.
Meloso também registra presença no rádio sergipano. “ Comecei ajudando o programa de Clemilda na Rádio Difusora. Quando ela viajava fazia a locução apresentando seu programa. Depois tive o meu programa – A Festança do Meloso, na Rádio Jornal AM na Av. Barão de Maruim, época de Clau Peixoto. Apresentava aos sábados, domingos e quartas das 3h à 6h da manhã.
Na mesma época tinha um programa na Rádio Liberdade AM, na época de Aerton Silva, de nome Liberdade dentro da Noite. Era um programa romântico das 23h à 1h. Também tive programa na Rádio Aperipê quando Marlene Calumby era superintendente. Um programa romântico das 4h às 6h”.
Continua na Rádio Aperipê e já conta com 32 anos de trabalho na Fundação Cultural, atuando no Programa da forrrozeira Clemilda. Conta que antes de atuar no rádio sergipano, trabalhou na Rádio Palmares de Pernambuco.
Gravou na Continental em São Paulo, o LP Pastoril do Meloso com músicas voltadas ao folclore de circo e a Manuela de sua autoria. As músicas do LP depois foram gravadas em CD. Meloso com seu Pastoril mereceu espaço no projeto de educação via rádio o Minerva e no Globo Repórter da Rede Globo, como revela. “Eles filmaram em Aracaju, o Meloso e as meninas dançando num circo em Aracaju”.
Só deixou de se apresentar como Meloso por conta de um Aneurisma Cerebral há oito anos. Separado, convive há 27 anos com a Maria Josinete da Silva, no povoado Terra Dura, município de Itabaiana. Filho e Naldo.