O Nordeste brasileiro compreende os Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Climaticamente, pode-se também considerar o norte do Estado de Minas Gerais, embora esta área comumente não seja incluída pelos pesquisadores.
A Região ocupa uma área de 1.548.672 km 2, ou seja, cerca de 18,20% da superfície do Brasil. Sua população atual é de 41.408.000 habitantes (28,7% do 234 Brasil), dos quais 23.246.000 residem em quadros urbanos e 18.162.000 em domicílios rurais (estes perfazem 50,1% de toda a população rural brasileira)Esta região brasileira, que já foi a maior produtora mundial de açúcar (século XVIII), é, hoje em dia, uma das áreas mais pobres do planeta, com indices de mortalidade infantil e de desnutrição comparáveis ao do Sahel.
Devido à intensa exploração monocultora dos solos havida no passado, o Nordeste é hoje periodicamente castigado por períodos alternados de secas e enchentes. Em conseqüência, milhões dos seus naturais vivem fora da Região. Dados mais precisos sobre o número exato ou aproximado de migrantesnordestinos podem ser encontrados em ANDRADE, COSTA, MOURA e SOUZA.2 Entretanto, se considerarmos que as migrações nordestinas vêm ocorrendo de forma intermitente durante os últimos três séculos, pode-se estimar o número de migrantes e de seus descendentes em vários milhões, cabendo-lhes uma contribuição significativa na formação populacional das demais regiões brasileiras.
Em geral, considera-se difícil estabelecer exatamente o número de migrantes devido a várias razões, tais como a falta de estatísticas retrospectivas, a existência de migração interdomiciliar, isto é, dos quadros rurais para os quadros urbanos, a migração de retorno, a re-emigração, etc.
Assim, vem sendo o Nordeste considerado como uma área problemática e produtora de migrantes. Até há algum tempo não se atribuía maior importância a este fato porque os brasileiros sempre tinham em mente o tamanho continental do Pais. Contudo, após os anos cinqüenta, com o crescimento continuo das áreas urbanas, maior atenção passou a ser dada às causas e aos efeitos da migração regional no Brasil.
Há um outro aspecto concernente ao Nordeste que precisa ser considerado: não se deve esquecer que foi exatamente esta parte do Brasil a ser primeira e exitosamenté colonizada por Portugal. Durante os dois primeiros séculos de presença européia na América do Sul, o Nordeste era um florescente conjunto de colónias que deram origem aos seus atuais pequenos Estados, os quais detêm ainda muita importância por suas contribuições políticas e culturais. Muitas das maiores expressões culturais nacionais, como Jorge Amado (escritor) e Gilberto Freyre (sociólogo), são nordestinas. A primeira capital brasileira, durante muito tempo, foi Salvador (Bahia).
Neste sentido, ninguém no País nega a grande e continua contribuição que o Nordeste tem dado à cultura e à política brasileiras. Não só no que diz respeito à cultura de alto nível, mas também no que concerne à sua contribuição para o folclore. Nisto, o Nordeste ocupa o primeiro lugar em relação ao Pais. Pelo fato de ter sido a mais antiga e duradoura área brasileira sob influência portuguesa e um cadinho cultural, muitas das atuais tradições folclóricas nordestinas remontam a essas origens.
Em conseqüência, pode-se afirmar que pane considerável das manifestações folclóricas presentes em todo o País (com algumas exceções regionais, como o Rio Grande do Sul e o interior de São Paulo e Minas Gerais) têm sido estimuladas por migrantes nordestinos.
Referimo-nos aqui, em especial, aos grandes fluxos migratórios ocorridos nos últimos cem anos. Assim, pode-se começar com a migração ocasionada pela febre da borracha que ocorreu durante as décadas finais do século XIX, quando milhares de nordestinos estabeleceram-se na Região Amazônica para extrair borracha em árvores nativas daquela Região. Dar o fato de a maioria dos habitantes não indígenas residentes às margens dos rios que formam a bacia amazônica descender de nordestinos e continuar a expressar
muito da cultura dos seus ancestrais. Após 1930, com o inicio da industrialização no Rio de Janeiro e em São Paulo, milhões de nordestinos migraram para essas áreas, num processo que ainda perdura.
Mais uma vez, nos anos cinqüenta, quando Juscelino Kubitschek iniciou a construção de Brasília, a nova capital localizada no Estado de Goiás, são os nordestinos que suprem grande parte das necessidades de mão-de-obra não qualificada. Constituem agora a grande maioria da população do Distrito Federal.
Poder-se-ia ir escrevendo mais e mais sobre detalhes e fatos importantes intrinsecamente relacionados com essa migração. Preferimos, entretanto, conceder a palavra aos próprios migrantes e aos seus lideres naturais de opinião: os “cantadores” (menestréis) e os “poetas da literatura de cordel”.
Fonte: Joseph M. Luiten Professor Visitante da Universidade de Tsukuba, Japão
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.