As origens da canção Zé Pereira

Zé Pereira com as folionas no Carnaval

O reinado da canção carnavalesca começou em 1917 com o “Pelo Telefone” e terminou com a pungente “Bandeira Branca” (de Max Nunes e Laércio Alves) em 1970, quando o samba-enredo tomou os lugares do samba e da marchinha tradicionais. Bem mais antigo do que essas músicas, porém, é o “Zé Pereira”, um canto de chamamento à folia, efetivo contra momentos de desanimação coletiva. Segundo o historiador Vieira Fazenda, o surgimento do “Zé Pereira” aconteceu num carnaval por volta de 1850. Na ocasião o sapateiro português José Nogueira de Oliveira Paredes, saudoso do costumeiro desfile de zabumbas nas festas de Braga e Viana do Castelo, resolveu repeti-lo no Rio.

 Então, saiu às ruas com um bando de patrícios em grande algazarra, tocando bombos e tambores. De repente, com o vinho subindo-lhes às cabeças, todos começaram a dar vivas a um tal de Zé Pereira, que seria o próprio Zé Nogueira, patuscada que se repetiria nos anos seguintes. Tempos depois, em 1869, a folia do sapateiro daria ao ator Francisco Correia Vasques a ideia de reproduzi-la num entreato cômico intitulado “O Zé Pereira Carnavalesco”. Dono do Teatro Fênix Dramático, ele era rival do empresário Arnaud, do Teatro Lírico Francês, cujo sucesso na ocasião era a peça “Les Pompiers de Nanterre” (de Larone e Martinaux).

Classificada como uma “exentricité burlesque” e estrelada pela “demoníaca” Zelia Lafourcade e a “salerosa” Rafaela Monteiro (os adjetivos são de um cronista da época), a peça apresentava uma quadrilha calcada em canções francesas, entre as quais a cançoneta (de Antonin Louis) sobre os bombeiros, que o público adorou certamente pelos dotes físicos das intérpretes, bem mais sedutores do que uma historinha de bombeiros.Foi justamente sobre essa melodia que Vasques escreveu a versalhada (71 versos…) cantada ao ritmo dos tambores no tal “Zé Pereira Carnavalesco”.

O pesquisador Mozart de Araújo, que desvendou o mistério do tema original, escreveu: “a 4ª parte e a coda da 5ª parte dessa quadrilha são, nota por nota, a famosa melodia do nosso carnaval’. E era isso mesmo que pretendia o Vasques, ou seja, depreciar o concorrente grã-fino misturando o seu maior sucesso com a zabumbada popular. O que ele não pôde prever foi a consagração do tema no nosso carnaval. E “viva o Zé Pereira / que a ninguém faz mal…”

Por  João Mello

Fonte: www.jornalggn.com.br

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