Um dos pontos significativos da cultura tradicional alagoana é a transição que passou o Reisado, até se transformar em Guerreiro. O professor Pedro Teixeira Vasconcelos, situa muito bem esta transição: Paulatinamente, o Reisado foi se modificando. Podemos chamar esta modificação de miscigenação. Foram incluindo no folguedo figuras de outras modalidades de danças. Primeiramente vieram dois meninos que traziam bandeirinhas e se postavam na frente, executando os difíceis passos da complicada coreografia; no final da guerra funcionavam como apaziguadores, cruzando as bandeirinhas com a espada do mestre cantando: Tenha mão, meu secretário,/ Lembremos de pelejar/ a bandeira brasileira/ nós teremos de honrar. (Vasconcelos, 2001, p.17) O autor citado também aponta o surgimento de outros personagens no Reisado: o Capitão General, da Chegança; a Borboleta do Pastoril; o Ìndio Peri, que aparece no Auto dos Caboclinhos, que por sua vez, é o personagem principal no romance o Guarani de José de Alencar; a Lira, também das Caboclinhas; a Rainha, figura de diversos folguedos; a Sereia, figura muito discutida a respeito de sua entrada na brincadeira.
A mistura era fato, ao ponto de existir duas modalidades de Guerreiro: o Guerreiro Tradicional e o Guerreiro Abaianado, para depois transformar-se no que é atualmente: Dança do Guerreiro Alagoano. Quis misturar-se um pouco o Baianá quanto as jornadas. Apareceram repentistas e improvisadores que criavam peças na hora, desprezando as antigas e tradicionais. Poucos conservavam a tradição e o Reisado foi se modificando a ponto de, hoje em dia, estar dividido em duas categorias: Guerreiro Tradicional e Guerreiro Abaianado. (Idem. p. 20) Quando penso na configuração da dança do Guerreiro surgindo de um Reisado, bricolado com o Auto dos Congos, os Caboclinhos, o Pastoril, e outras danças dramáticas, é bom situar também, que no século XVIII, já havia registros da junção de algumas danças dramáticas com números diferentes num mesmo cortejo. Na cidade do Rio de Janeiro e na Bahia, durante a celebração do casamento de D. Maria I, em 1760, se tem registros dessa mistura na ocasião das bodas da rainha. No cruzamento destes elementos provenientes destas diversas culturas há elementos míticos os quais são referenciais bastante.
7 determinantes nestas três principais matrizes estéticas constitutivas da dança do Guerreiro Alagoano. A brincadeira do Guerreiro de Alagoas possui como tema central o assunto da guerra, como seu próprio nome indica. A guerra é a metáfora do poder, da conquista e da luta dentro do espírito que rege as danças dramáticas populares do tipo chamado Reisados, no entanto, o episódio da guerra origina-se do Auto dos Congos. Então, percebo que a marca alagoana dos Reisados é que no Estado, ele misturou-se ao Auto dos Congos, que por si próprio já era um Reisado. Pelo cruzamento do Guerreiro com os seus mais importantes contribuidores: os Reisados, ao Auto dos Congos, que por si também era um Reisado, o Pastoril e os Caboclinhos, a maioria de suas partes ou cenas alegóricas não coincide apenas na temática, mas na sua música, nas suas dinâmicas corporais, na sua indumentária, contudo, adverte Duarte: O auto absorveu, como ficou dito, elementos dos Reisados e dos Caboclinhos.
Mas no trabalho sincrético inverteram-se os papéis de alguns figurantes dos Caboclinhos e a admitiram-se outros dos Pastoris, o que criou a mais esdrúxula composição, de vez que essa inversão não estabeleceu nenhuma lógica no desenvolvimento temático. Fica-se diante de um drama quase sem nexo, aparentemente ligados os fatos por um ilógico enredo ( Idem, 1974, p.317) O drama do Guerreiro, também é estruturado com uma semelhança aos Reisados e Caboclinhos, diferindo pela quantidade de figurantes, pela riqueza nas vestimentas e nas músicas. Os Caboclinhos sugerem as danças de origem indígena, também chamadas de Dança dos Caboclos que aparecem na região Nordeste. Mario de Andrade elucida que: A parte propriamente dita dramática do bailado, bem como as músicas, Varian bastante de lugar pra lugar (Idem, 1982:179). Ainda sobre os Caboclinhos, encontramos nota do mestre Theo Brandão sobre o Auto dos Caboclinhos, editado em Maceió, Alagoas, em 1952, onde o autor transcreve peças desse auto popular.
Por CLÁUDIO ANTÔNIO SANTOS DA SILVA
Fonte: www.silo.tips/queue/artigo-a-dana-do-guerreiro-alagoanoe-seus-entremeios-multirreferenciais