O Amigo Aloísio

Por Laura Della Monica

Foi assim. Eu era alegre e só entendia de música erudita. Através dos ensinamentos insistentes de Mário Andrade compreendi porque meus pais queriam que eu conhecesse a minha terra para amá-la e respeitá-la. Consequentemente conheci muita gente que por sua vez me ensinou muitas coisas. Os livros estavam a disposição. Os amigos também.

Correndo-mundo cheguei nas Alagoas. Gente boa ! Aprendí muita coisa, mas esse Vilela, não conhecí, não ! Nem eu sabia quem ele era, nem ele sabia quem eu era. Outra vez correndo-mundo. De repente a voz dele, o seu sorriso, o cheiro do cigarro dele. Aloísio era simples, eu também. Um comprimento. Dalí começou a nossa amizade. Ele com vontade de falar, eu com vontade de ouvir.

Seus versos andaram de boca em boca. Todo-o-mundo conhecia. Sabia-os de cor. Mas o tempo não espera por ninguém. Nas últimas comemorações do mês de Folclore em Belo Horizonte, não me encontrando, reclamou. Prometí que no fim deste ano iria vê-lo, sem falta. Disseram-me que deu um sorriso como quem não acredita na coisa. Pois é. Pela carta que recebí de Carmen Lúcia Barbosa (a nossa amiga comum) fiquei sabendo que os dois, bate- papo, falaram do meu excesso de entusiasmo, da minha vida… E, segurando o cigarro, disse: “Pede à Laura o elixir da longa vida…diz a ela que estou precisando dele, já estou velho, cansado!”

No dia seguinte eu partia para o Sul. Seu endereço estava na minha relação para correspondência. Iria contar-lhe o que era o projeto CULTUR. Pediria a Aloísio que versejasse o gaúcho.

Lí a notícia: “Morre estudioso do Folclore”. Desta vez Aloísio não contestou.

Morreu o marechal do sorriso, da felicidade, da comunicação ! Poetas cantadores, sertanejos, silêncio, por favor ! Não toquem sua lira, não repiquem sua viola, não tanjam seus bois, não deixem seu carro-de-boi cantar. A moenda silenciou, a dança do Coco parou, a vila dos pescadores entristeceu e não se ouviu o aboio do vaqueiro.

“O gogó da Ema não existe mais; o mesmo vento que o fez em anos, o derrubou em apenas um dia”. Mas não é preciso chorar a sua morte, outros coqueiros lá estão, parecendo avançar sobre o mar sempre azul. Aloísio, porém, não voltará. Sua lembrança permanecerá no tatalar das folhas dos coqueiros, nos pregões de rua, no cantar dos pássaros, no gemer da sanfoninha e da viola, no balanceado dos dançadores de Coco, nos brincantes dos Reisados.

Este Natal vai ser diferente. Aloísio não me mandará cartão. E a saudade ficará pairando no ar paulistano que se estenderá para todo Brasil.

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Mas para suportar a ausência de Aloísio somente Deus poderá nos ajudar.

Fonte de pesquisa: Boletim Alagoano do Folclore – Ano 1977

.

 

RÁDIO CORREIO AM 1200 - MACEIÓ