
Théo Brandão, assim como os folcloristas de seu tempo, preocupava-se sobremaneira com a documentação e coleta daquilo que pesquisava. Entusiasta das possibilidades de gravação que as novas tecnologias proporcionavam, ao longo de sua vida, gravou e fotografou incessantemente, constituindo um significativo acervo audiovisual. Como explica Carmem Dantas, ex-diretora do Museu Théo Brandão, colaboradora e discípula do folclorista: Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 16, volume 23(2), 2012 58. Seu acervo fotográfico e de fitas sonoras também é uma preciosidade. Curioso é que, morando em Salvador, adquiriu ainda estudante a melhor máquina fotográfica que apareceu à sua frente e foi dos primeiros a usar gravador em Alagoas. Fotografava e gravava tudo (Dantas, Lôbo e Mata 2008:22).
Sintonizado com a prática de registro sonoro e fotográfico como forma de preservação da memória da cultura popular alagoana, o folclorista também percebia a importância de se coletar objetos e artefatos da cultura material. Nesse sentido, a coleção de peças de arte popular, que serviu de base para a criação do museu e para a montagem da mostra de longa duração da instituição, abrangem desde cerâmicas e esculturas indígenas dos Xucurú-Kariri do agreste alagoano, ex-votos e outros objetos do universo do catolicismo popular, peças dos cultos afro-brasileiros, bordados e rendas, matrizes de xilogravura, cerâmicas antropomórficas, indumentária, chapéus e coroas de folguedos, brinquedos populares, cerâmicas do mestre Vitalino, de Caruaru (PE), além de objetos de cultura popular de outros países, como México, Portugal e Espanha.
Esse vasto e diversificado acervo, construído ao longo de mais de três décadas devotadas à pesquisa e documentação de aspectos do folclore alagoano, em determinado momento, passa a ser objeto de preocupação por parte de Théo Brandão. Tal inquietação em torno do que fazer com esse conjunto de objetos, de distintas naturezas, comum aos colecionadores, especialmente àqueles que mantêm coleções em Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 16, volume 23(2), 2012 59 espaços residenciais, como era o caso de Théo Brandão, coincide com o período em que se aposenta da Universidade. É justamente nesse período que ele começa a vislumbrar a possibilidade de tornar pública, destinando à universidade, sua coleção particular. A ideia de criar um museu para abrigá-la, todavia, não partiu do próprio folclorista. Como esclarece, a reivindicação para criação de uma instituição de conservação cultural em Alagoas originalmente havia sido feita pelo amigo e folclorista potiguar Câmara Cascudo ainda nos anos de 1950.
A ideia de um Museu Etnográfico ou Social em Alagoas, nem essa me pertencia. Eu a recebera, há 25 anos passados, através de uma carta por meu intermédio entregue ao então Governador Arnon de Melo, do querido companheiro Câmara Cascudo, quando, em 1952, voltava de Maceió ao seu estado natal, deslumbrado com o que aqui vira na IV Semana Nacional do Folclore. Mesmo a criação de um Museu na UFAL fora uma sugestão ao então Reitor A. C. Simões, feita pelo Prof. Abelardo Duarte, ao elaborar aquela planta e locação dos edifícios da Cidade Universitária que hoje merecidamente leva seu nome, destinando-se na grande praça central um prédio para um Museu (Dantas, Lôbo e Mata, op. cit.,p. 12).
Apesar de não ter proposto formalmente a criação de um Museu para a Universidade, Théo Brandão foi de grande perspicácia no sentido de viabilizar tal projeto. Como explica Dantas, a preocupação do Revista ANTHROPOLÓGICAS, ano 16, volume 23(2), 2012 60 folclorista em encontrar um destino para seu acervo foi solucionada doando-o à Universidade:
Inteligência privilegiada, rápido de raciocínio e visionário no alcance cultural, reuniu todos os seus objetos de cultura popular e, ainda como diretor do Centro de Ciências Humanas da UFAL, doou esse acervo à Universidade Federal de Alagoas, sem prévia consulta, para causar impacto e criar um problema, cuja solução ele via mais adiante: a criação de um museu público. Uma casa no antigo campus Tamandaré foi disponibilizada para a instalação do acervo chegado à Universidade.
O Prof. Fernando Antônio Lôbo, por escolha do Dr. Théo, foi designado diretor da instituição recém-criada, que veio logo a se chamar Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore da UFAL. Dessa forma, o ato do Reitor consolidou o sonho de Dr. Théo e sacramentou seu projeto de memória da cultura popular alagoana.
Fonte: file:///C:/Users/Marcus%20Lima/Downloads/23891-47376-1-PB%20(1).pdf