Vários outros homens dignificaram a história de Pilar, como:
20/05/2020
Folclorista Ranilson França
Augusto Andrade (Médico, Jornalista e poeta), Raúl Ramos de Araújo Pereira (Músico e compositor),Nilo Ramos (poeta) e o folclorista, pesquisador, Professor Ranilson França, quem fora presidente a mais de uma década da Associação de Folguedos Alagoanos(falecido em 14 de agosto de 2006), e nos dias atuais figuram: J.F. Da Costa Filho(escritor no seio da cultura brasileira), Antonio Sapucaia, formado em Direito,Desembargador (DD), José Benjamin (76), poeta e escritor “autodidata”, fundador daAcademia Pilarense de Letras; Sérgio Moraes, poeta, escritor autodidata e José Inaldo Soares dos Santos, arquivista e poeta autodidata.
Também, outros homens e mulheres foram importantes na construção da identidade cultural de Pilar, no reconhecimento do valioso aporte à cultura popular
de Alagoas e porém de Pilar, da Mestra do Guerreiro de Alagoas, Joana Gajuru, e dos Patoris comandados por D. Jacy Ayres, Maria Costa.
E nos dias atuais, a importância e valorização aos Mestres de Folguedos de Pilar, o Mestre Bumba, Dom José Antonio de Lima, que comanda a Chegança “Minas Gerais”; Das Dores Braúna, Dona Maria Das Dores Santos, outrora comandará as Baianas; a Mestra Cícera, Dona Cícera Braúna – filha de Das Dores Braúna – comanda as Baianas da Melhor Idade; a Mestra Bida, Dona Benedita Santos de Lima, há 50 anos, como Mestra do Pastoril, Baiana e Caboclinha; o Mestre Canário, comanda o Coco-de-Roda e Bumba meu boi; o Mestre Oséas, que comanda a Cavalhada; Mestre Juarez Bispo da Silva, comanda a Quadrilha “Xamêgo Show do Matuto”, e o Mestre Ângelo que sonha em ver um novo Guerreiro ressurgir em Pilar (Pilar, 2004).
Folclore
Até a década de vinte do século passado, formou-se o primeiro corpo de intelectuais voltados ao estudo do folclore nacional: Silvio Romero, Celso
Magalhães, Lindolfo Gomes, Joaquim Ribeiro, Gustavo Barroso e Câmara Cascudo, quase todos originários do Norte e Nordeste do país.
Esses estudos folclóricos foramcomeçados, conduzidos por intelectuais desta região, significaram umademonstração de consciência regional, em contraposição à centralização de poder político e cultural no Sul, observado nos primeiros tempos da República (Ortiz,1988).
Em torno da idéia regionalista reuniram-se vários intelectuais nordestinos como Gilberto Freyre, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Ascenso
Ferreira, Graciliano Ramos e Jorge de Lima, buscando “através da literatura e da arte, projetar a sua personalidade e, através da personalidade, o seu ethos nacional”
(FREYRE, 2001, p.281).
Para o sociólogo Durval Albuquerque (1999), o folclore é entendido como expressão da mentalidade popular regional, teve um papel preponderante na defesa
da autenticidade da região e na afirmação da memória tradicionalista, em contraposição às novas correntes culturais modernistas firmadas no Sul do país.
Coube pois, aos intelectuais que abraçaram a “causa nordestina”, o estudo e registro do folclore regional, retomando as primeiras classificações tipológicas do folclore
nacional elaborada pelo grupo da década de vinte.
Sílvio Romero como um dos fundadores da tradição dos estudos folclóricos, procurava encontrar na cultura popular os elementos que em princípio constituiriam o homem brasileiro. Os escritos de Gilberto Freyre retomam essa temática, nos anos 30, as mesmas preocupações dos intelectuais do final do século, que é recolocar a questão do Estado, nesse momento, que alguns historiadores junto a ele chamaram de “redescoberta do Brasil”, onde o movimento de compreensão da sociedade
brasileira se insere no contexto mais amplo de redefinição nacional.
A partir desse movimento, seguindo as tendências nordestinas de modo geral, surge o movimento intelectual de estudo do folclore em Alagoas, iniciadas pelo o
historiador alagoano Manuel Diégues Júnior, em trabalho apresentado no 1933 foi o primeiro a propor uma classificação específica do folclore do Nordeste com base no critério histórico, distinguindo o ciclo Caboclo, Holandês, Colonial, Autonômico ou Imperial e Republicano (Brandão A, 1949).
Continuando nesse processo de “descobrimento” da cultura popular como essenciais para a identidade e cultura alagoana, nas décadas de 1930 a 1940 foram
profícuas para o estudo da cultura popular do Nordeste, e de Alagoas em particular, datando deste período o surgimento das “escolas” de pesquisa sobre o saber popular: a “Escola de Maceió”, representada por Abelardo Duarte e a “Escola de Viçosa”, representada por Alfredo Brandão, Aloísio Vilela, Théo Brandão, José Maria
de Melo, José Pimentel de Amorim e, mais recentemente, José Maria Tenório Rocha.
A chamada “Escola de Maceió”, voltava-se, prioritariamente, para a determinação dos pontos de origem do que chamavam áreas culturais, abordando o
estudo das expressões do folclore nelas existentes, um procedimento posterior, já para a “Escola de Viçosa”, em abordagem diferente dos seus predecessores da
“Escola de Maceió” voltava-se para o registro e interpretação das tradições populares alagoanas de modo geral, sem valorizar a setorização (Lindoso, 1981).
A classificação do folclore alagoano, realizado pelo Mestre do Folclore Brasileiro, Théo Brandão (1949), dá pauta desses novos estudos da cultura popular
em Alagoas, classifica em três grandes ciclos: Marítimo ou Costeiro, Agrícola e Sertanejo, sobre isso, segundo Lindoso (1981), os grandes ciclos obedeceram ao
critério histórico-cultural, os médios ciclos ao critério antropológico e histórico e os pequenos ciclos ao critério temático. Assim, nos dois primeiros grandes ciclos,
situam-se o folclore do açúcar, que em Alagoas sintetizou a mistura entre as culturas européias e africanas no ambiente dos engenhos do Nordeste.
Abelardo Duarte (1974), médico e folclorista alagoano, em sua obra “Folclore Negro das Alagoas: Área da Cana-de-Açúcar”, menciona que “os folguedos têm
origem nos autos da Península Ibérica, sobretudo nas ‘Janeiras’ ou ‘Reis’, cortejos propiciatórios de novas alegrias, aventuras e mesas fartas, que celebravam a
entrada do Ano Novo” (DUARTE, 1974, p. 14). Reisados, Guerreiros, Cocos, Bumbas, Quilombos, Caboclinhos e Baianas foram expressões populares muito
comuns em Alagoas, fruto do sincretismo cultural processado no ambiente dos engenhos de açúcar. A Chegança, o Pastoril e a Cavalhada têm, também, origem
européia, mas não são nascidas nos engenhos de açúcar nem sofreram, como os outros, a forte influência das culturas africana e indígena.
Destacando que são os folguedos que enchem com os mais pitorescos, ingênuos os satíricos entrechos, as noites e as tardes festivas que o nordestino
dedica à comemoração multissecular da vinda do Redentor, dos Santos Reis ou dos seus santos protetores (Ibidem).
O historiador alagoano Manuel Diégues Júnior (1980), enfatiza que a evolução histórica do folclore, formou-se ao influo das mesmas causas que
determinaram a evolução político-social; acompanhou as mesmas etapas que a vida alagoana registra na sua evolução como povo. Registrando-se épocas históricas do folclore alagoano, senão mesmo do Nordeste, a chamada idade cabocla ou ameríndia, o período colonial, o período holandês ou heróico, a época imperial e o
período republicano.
E dentro destas épocas, o autor descreve os chamados por ele de ciclos naturais ou o agrupamento sob determinado motivo básico de temas folclóricos, de
manifestações populares, traduzidos não só a poesia ou na cantiga, senão ainda nas danças dramáticas, nos bailados, nos cantos, nas lendas – lembrando, o que se
considerava de manifestações populares, para a época – desse modo, o ciclo a ser fixado foi o chamado “ciclo do açúcar” ou “ciclo dos engenhos”, como denominaria
Joaquim Ribeiro ao estudar o folclore brasileiro. Sendo o engenho não apenas o símbolo da civilização agrária, também, a primeira manifestação de vida econômica
do país, em particular da região nordestina e mais especificamente das Alagoas, as festas mas celebradas eram o Natal e o São João (Diégues Jr., 1980).
O autor destaca que em todo nordeste são interessantes e variadas as manifestações folclóricas referentes à cana ou ao açúcar, ao engenho ou ao senhor
de engenho, ao canavial ou à cachaça, estas manifestações se encontram, a começar por uma dança tipicamente alagoana, tipicamente de engenho, porque nela
nascida: o Coco. Segundo Schelling (1990), a finais dos anos 60, que no Brasil, a cultura popular é assumida “como tomada de consciência da realidade brasileira”, esseconceito da cultura popular como “todo um modo de vida”, uma realidade material e espiritual, viria a encontrar expressão no Movimento de Cultura Popular, nos anos 1960, particularmente no método de alfabetização de Paulo Freire,
Descobrir-se-ia criticamente agora como o fazedor desse mundo de cultura, Descobriria que ele, como o letrado, ambos tem o ímpeto de criação e
recriação. Descobrir que tanto é cultura o boneco de barro feito pelos artistas, seus irmãos do povo, como cultura também é a obra de um grande
escultor, de um grande pintor ou músico. Que cultura é a poesia dos poetasletrados do seu país, como também a poesia de sus cancioneiro popular.
Que cultura são formas de comportar-se. Que cultura é toda criação humana .
(FREIRE, 1967 apud SCHELLING, 1990, p. 335-337).
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.