Aloísio Vilela, personificação do Nordeste

José Aloísio Vilela, sua vida na cultura

“Nordeste de Mauro Mota e Ariano Suassuna.Nordeste de João Cabral e Luis da Camâra Cascudo. De Gilberto Freyre, Théo Brandão e Teófanes de Barros. Nordeste vivo da escultura de Fernando Lopes da Paz, do desenho de Fernando Torres Barbosa, da gravura de Gilvan Samico, dos repentes e ponteios de Antônio José Madureira, Capiba, Nóbrega de Almeida, Egildo Vieira, Guerra Peixe, da tapeçaria de Maria da Conceição Brennand Guerra,da poesia de Janice Japiassu, Débora Brennand, Ângelo Monteiro e Marcus Acioli. O Nordeste de José Américo, na solidão povoada de Tambaú”.

Antônio Carlos Vilaça (Literatura e vida), acertou em cheio, ao sintetizar em personalidades típicas a sua visão do Nordeste: expressou tendência generalizada por todo Sul do país. Aqui em Minas, sentimos falta do pernambucano Oscar Mendes e do sergipano Alberto Deodato, entre as que foram mencionadas . Os que lidamos com os assuntos folclóricos , além dos contemplados e omitidos, não podemos dispensar o nome de um alagoano completo , agora repetido com saudade sem remédio. Refiro-me ao querido Aloísio Vilela, personificação do Nordeste.

Comunicativo por todos os meios e modos que unem os homens no entendimento afetuoso: a voz acariciante, rica de entoações sublinhadoras do sorriso ; o gesto, comentário vivo da linguagem espontânea; o olhar que nada esconde; o coração ainda mais aberto que as pretônicas da pronuncia. Homem do Nordeste em tudo e por tudo.

Nele viviam a riqueza e a beleza da cultura popular nordestina. Sua palavra despreocupada desdobrava-se em imagens, comparações, ditos e provérbios regionais. Sabia cantar uma embolada, não se apertava no desafio, dançava o coco alagoano. Descrevia uma feira , que era mesmo que a gente estar vendo. Sabia de cor uma porção de romances, aprendia logo os que iam aparecendo. Literatura de Cordel era com ele. Lia por natureza, na realidade palpitante, mais que nos livros. Era uma criatura folclórica.

Identificava-se com o jeito de ser, próprio do povo. Enquanto os irmãos foram para os estudos – um deles, Senador Teotônio Vilela, conquistou a simpatia nacional pela sua franqueza democrática – Aloísio ficou na fazenda, integrando-se na paisagem social e geográfica das terras da família. Ainda que desejasse – amava o povo como a sí mesmo – não conseguiria despergar-se dessa realidade. Sua palavra, só animada pela retórica nativa, conduzia o ouvinte ou o interlocutor até as paragens onde o folcloreviceja. Nas rodas da conversa gostosa, com da própria tribuna, sempre o recordamos assim, nos Congressos em que estivemos juntos. Para distribuir folclore bastava-lhe contrar a própria vida. Nem outra coisa precisou fazer, aqui em Belo Horizonte, na IV Festa Nacional do Folclóre, a derradeira vez que o ouvimos.

Trouxe-me então, mensagem de outro companheiro de Alagoas, Théo Brandão, que o Brasil inteiro o conhece e admira pela devoção à terra natal, particularmente as suas manifestações folclóricas. Essa outra flor da nordestinidade , sem poder vir à Festa Nacional, mandou-me palavras de generosas homenagens. O agradecimento não lhe chegou. Foi pelo nosso Aloísio Vilela, que ficou no caminho vítima de acidente de automóvel.  Aqui o renovo publicamente agora, pela única maneira que jamais imaginaria. Altos juízos de Deus !…

Fonte: Boletim Alagoano de Folclore , em memória de José Aloísio Vilela – 1977

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