A produção algodoeira no agreste alagoano

Em Alagoas, segundo algumas narrativas quem incentivou à cultura algodoeira para fins comerciais foi o ouvidor José Antônio de Mendonça Mattos Moreira entre 1779 e 1798, sendo somente a partir do século XIX que seu plantio e cultivo expandiuse para as áreas do agreste e sertão, sendo também registrado em menor escala em áreas litorâneas. O rendimento econômico, dependia do êxito da colheita que por sua vez baseava-se na fertilidade e adequação do solo.

“[…] as terras secas são as mais próprias para a plantação de qualquer espécie de algodão até hoje conhecida e adaptada nesta Província; como sejam as montanhas vulgarmente chamadas serras, que em geral são de barro vermelho, e as agrestes conhecidas por caatingas cujo solo é composto de terra preta, areia e massapé preto e pedregoso, e em sua superfície não se encontram grandes árvores, como nas matas, e somente arbustos de pequeno crescimento; sendo preferíveis as últimas, porque nos invernos rigorosos a colheita é muito mais fácil do que nos primeiros. Encontram-se terrenos iguais aos que apontamos em todas as comarcas centrais da Província, principalmente nas de Palmeira dos Índios, Assembléia, Imperatriz, Anadia e Mata Grande, lugares chamados sertão, e delas é que provém a maior parte da safra da Província. ”

As terras do agreste e sertão eram enxutas o que possibilitava e favorecia uma melhor colheita; o cultivo em áreas litorâneas – mesmo sendo possível – não era adequada, devido seu solo ser úmido o que prejudicava o rendimento da colheita, ou seja, geraria prejuízo se comparado com as outras regiões. Na região do agreste, o plantio algodoeiro devido sua viabilidade de ser cultivado em pequenas extensões de terra e consorciada com a produção de subsistência – a exemplo da fava, do milho, do feijão e até do fumo – foi aderido por pequenos proprietários de terra e moradores de fazenda. Pois, a cultura algodoeira gerava renda extra para xs trabalhadorxs rurais sem retira-lhes a soberania alimentar. O geográfo Manuel Correia de Andrade (1960) já pontuava:

 “Mas não foram só os grandes proprietários que se lançaram à cultura do algodão; aos poucos pequenos proprietários e moradores passaram logo a semeá-lo nos pedaços de terra de que dispunham, associando-o ao milho e ao feijão, afim de colher de um mesmo roçado o produto de subsistência e o de venda. Para estes, a produção era pequena, mas as despesas também eram mínimas, pois investiam apenas um pouco de trabalho. Não só a possibilidade de poder fazer a cultura associada, como o fato de ser a mesma de ciclo vegetativo curto e de não ter o agricultor necessidade de industrializar o produto, fazia com que o algodão e a palha do milho poderiam a ser ração suplementar para o gado nos meses mais secos – janeiro e fevereiro –. Passaram, então, a ceder “pela palha”, terra aos moradores de suas propriedades, das vilas e dos povoados próximos. […]’ (ANDRADE, 1960, p.154)

As terras em que cultivavam, usualmente eram arrendadas ou em fazendas nas quais por vezes, também era estabelecida como moradia, na qual, os donos das terras ou os arrendatários exigiam como moeda de troca a plantação de capim ou palmas em outras áreas de terra, que serviam de pastagem para o gado na época mais quente do ano, o verão; essa moeda de troca convertia-se em força de trabalho gratuita. Outra forma de pagamento – pelo uso da terra – estabelecido era após a colheita, as ramas dos algodoais eram destinadas ao patrão para servir de alimento para seu gado.

Nos fins do século XIX e início do século XX, com o cultivo abundante dos algodoais, foram instaladas fábricas de descaroçar, beneficiar e enfardar o algodão em cidades do agreste que plantavam desde pequena a grande escala. Essas fabriquetas realizavam o processo inicial da limpeza da fibra, para em seguida serem escoados para as fábricas de tecidos ou para o porto de Jaraguá.

A cultura algodoeira era muito rentável. Além da comercialização e exportação da fibra, seus subprodutos eram amplamente aproveitáveis. As sementes, o óleo vegetal que era extraído da semente – inclusive em alguns municípios existiram fábricas destinadas a confecção desse óleo – e até mesmo o bagaço resultante do processamento das sementes eram comercializados.

Todo esse potencial econômico interessou ao Estado, que no século XX criou o órgão estatal Serviço do Algodão do Estado de Alagoas, que de acordo com o autor da obra ABC das Alagoas Francisco Reinaldo Amorim de Barros (2005) tinha como principal objetivo melhorar a qualidade do algodão, propagando a sua cultura e objetivando uma melhor adequação/preparação do algodão para ser exportado.

Na década de 1924, foi instituído o “Regulamento para o Serviço do Algodão”. Uma espécie de informativo com vinte e nove artigos, que tinha como função fazer a propaganda do algodão no Estado, e instruía sobre métodos e aparelhos provindos do Ministério da Agricultura, como os informativos acerca da posse de prensas e seus usos. Informava também ao produtor sobre seus direitos e numerosos deveres para com essa produção uma vez que fosse subsidiado pelo Estado.

 A criação dessas instituições se deu devido ao alto teor de produtividade algodoeira. Cuja função principal era orientar e regular a produção algodoeira em Alagoas.

Fonte:www.snh2019.anpuh.org/resources/anais/8/1565293664_ARQUIVO_DOFIODAMEMORIAAOTECIDODAHISTORIAAPRODUCAOALGODOEIRANOAGRESTEALAGOANO(1950-1959).pdf

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