O Grande Encontro do Poeta

Vida de casado, autor Poeta Pompilio Diniz

Pompílio Diniz a passear pela capital mineira encontrou um antigo amigo que há muito tempo não se via. Foram para um boteco (o que é muito do jeito do mineiro da capital) comemorar aquele reencontro e colocar a conversa em dia. A conversa foi algo de fantástico, um assunto que não acabava nunca, a ponto de já sendo altas horas da madrugada o dono do bar precisava fechar para descansar. Mas como parar aquele diálogo, jamais encontrado em gente comum. Daí compraram mais cervejas e foram para o apartamento do amigo continuar a conversa incomum, extraordinária. Já ao amanhecer do dia, o amigo lhe comunica que precisava ir até a rodoviária a fim de embarcar para a cidade de São Lourenço, pois iria participar de uma convenção de pessoas que também comungam daquelas ideias, as quais foram o centro da conversa até então. Pompílio refletiu por alguns segundos e falou: Eu vou com você, isto é, caso aceite minha companhia. Às oito horas da manhã ambos embarcaram na cidade de Belo Horizonte rumo a Serra da Mantiqueira, aquela que mais tarde cantará em seus versos como a mensageira da colossal Obra de Brahmã.
No auditório da então Sociedade Teosófica, Pompílio viu descortinar diante de si um universo divino-humano, humano-divino, algo que de tão sublime que não encontrava palavras para explicar. Porém na sua alma de poeta, quando recolhia no quarto de hotel, onde ficara hospedado naqueles dias de convenção, escrevia poemas sobre tudo o que ouvia.
Voltando aquele auditório palco de transcendentes conhecimentos, local de expansão de consciência, dilatador de horizontes, Pompílio pede ao organizador do evento, vamos chama-lo assim, a autorização para declamar alguns de seus poemas. Inicialmente a resposta já estava pronta, não. Não pode. Mas sem saber o porquê, o organizador voltando para o poeta aprova; todavia, ficava bem claro que estava a liberar somente um poema, e não mais que um, e bem curtinho. (os irmãos mais antigos sabem que nosso povo, não todos é claro, tem uma franqueza carecedora de amenidade).
Pompílio declamou, foi aplaudido, e quando se preparava para deixar o palco, eis que uma Senhora que estava sentada na primeira fila pede que declame outro poema.
O poeta olha para o organizador que através de um gesto, aprova. Pompílio declama de improviso, ele que possuía o dom dos repentistas, um belíssimo poema sobre o peregrino e suas andanças. Ao término da declamação, mais palmas._ Agora o Senhor poderia declamar para todos nós, por favor, o poema que o senhor mais gosta, falou a Senhora que estava sentada na primeira fila. Pompílio que não era homem tímido, muito pelo contrário, era mesmo extrovertido, com facilidade no uso com as palavras, era advogado, naquele momento sentiu uma timidez a lhe gelar o corpo.
Percebeu nosso vate sorrateiro que o organizador do evento, novamente assentiu que ele continuasse declamando, mas como hesitava em continuar seu espetáculo, foi quando o organizador aproximando do poeta, disse voltando para a Senhora da primeira fila: _ Mãe Helena, ele deve estar meio acanhado porque eu lhe havia dito que declamasse somente um poema. Mas fique a vontade moço, você está diante da maior autoridade neste recinto. Agora somos todos nós que queremos ouvir seus poemas.
Após vários poemas a traduzir a alma humana bafejada por uma inspiração celeste, somente possível quando em harmonia do eu com o Eu, a Senhora da primeira fila, que nessa altura já sabemos de quem se trata, Dona Helena, diz: _Filho, declame o poema que fizestes hoje pela madrugada, este que foi escrito em guardanapos e está no bolso esquerdo de seu paletó…
A partir de então, Pompílio Diniz começou a estudar os graus da Eubiose, sempre com assaz dificuldades, levou mais de trinta anos para passar pelos 4 Graus e chegar a Série Interna. Via seus colegas avançando nos estudos, mas ele mesmo não conseguia, sempre tinha alguma coisa (fugas, prisões, mudanças constantes de domicílios, etc) a barrar sua caminhada. Mas ele além de poeta era persistente …

VIDA DE CASADO
Autor Pompilio Diniz
Coletânea Paes Landim

Rita ! Ô Rita !!! Ritinha……
Abre essa porta muié
Ô nega, vem dipressinha
É seu marido, o Mané
-Pensa que ela ta drumino ?
A bicha ta me ouvino
Num abre pruquê num qué !!!

É sempre assim, eu já sei
Hoje ela ta cum a mulesta
E só pru que eu me demorei
Um pouco mais lá na festa
Muié ciumenta é castigo
E é purisso qui eu sempre digo
Qui casamento num presta…

Sê sortêro, que vidinha…
Chega-se a hora qui qué
Era assim quando eu num tinha
Dentro de casa a muié
Casado ô chega na hora
Ou dromi du lado di fora
Pra num ouvi labacé

E só dispois qui a gente vê
Qui casamento é besteira.
Sê obrigado a vivê
Us dois junto, a vida intera
Comendo da mesma comida
Bebeno da mesma bebida
E dormindo na mesma esteira…

Pois pódi crê: Cuma injôa
Mais num si podi falá
Tem qui dizê qui ela é boa
Qui ôta mió num há
Qui ela num féde nem ronca
Si num quisé levá bronca
Du cabelo arrupiá….

Ainda tem qui chegá cedo
E dizê qui vei correno
Contá na ponta dus dedo
O qui foi qui andô fazendo
Dizê qui é homi direito
Qui nunca fartô cum u respeito
E qui nada ta li escondendo…

E isso tudo sem falá
Nessa ta de “obrigação”
Di nada im casa faltá
Qui o cabra possa, o qui não
Comprá sapato e vistido
E aguentá nu pé-d’ouvido
Zuada i macriação…

E sabe ainda o que elas diz
Se a gente fô recramá ?
Você caso pruquê quis
Eu nem quiría casá.
Num foi vancê que insistiu
Qui tanto pidiu, pidiu
E agora qué me curpá ???

E aí cumeça o banzé
E lá vem tudo outra veiz
Xingamento, labaçé
E briga pra mais di méis
Porém apesá dos pesá
Se um dia mi inviuvá
Ainda mi caso ôtra veiz….

Por Márcio Cambahuba e Paes Landim

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