Patativa do Assaré

Antônio Gonçalves da Silva nasceu na Serra de Santana há cem anos. Foi cantador de viola, cordelista, poeta. autodidata, Patativa do Assaré cultivou roçado, colheu versos e amigos.

Patativa do Assaré

Patativa do Assaré foi homem feito de terra, poesia e amizade. Nasceu Antônio. Quando abriu os olhos, estava na Serra de Santana. Era março, dia 5. Por esse mês, o olho do sertanejo corre o céu em busca de chuva. Em 1909 choveu. O menino parece ter marcado encontro com a agricultura. Sem pai aos oito anos, ficaram a mãe, os irmãos mais novos, a enxada e a esperança plantada na terra pouca, herdada. Começou na roça quase ao mesmo tempo em que se deparou com a poesia. Enquanto cultivava a terra, brotavam os versos. Foi assim a vida inteira. Mesmo no verão havia colheita de poesia.

Os filhos, arando a memória, relembram o pai a caminho do roçado, na Serra de Santana, separada de Assaré por 18 km.
Geraldo, filho mais velho, traquino e tanjão, chegou a ralhar com Patativa em busca de entendimento. “Pai, na roça, tinha um mexido na boca. Um dia perguntei a ele: ‘Com quem o senhor tá falando, se eu tô aqui do lado e num escuto nada?'”. “Ói menino, cuide do seu serviço que eu tô fazendo meus versos”, ouviu como resposta. À noite, rodeava os filhos em volta da lamparina e recitava o plantio de palavras. Alguns poemas, Patativa esperava a noite quase esbarrar na madrugada para engarranchá-los num pedaço de papel. O roceiro virou um clássico quando os versos de Triste Partida, feitos no roçado e burilados na memória do poeta alvorada adentro, chegaram numa toada pela voz de Luiz Gonzaga, em 1964. Estourou pelos quatro cantos do País. Vinte anos mais tarde, Vaca Estrela, Boi Fubá conquista o Brasil na voz de Fagner.

“Quando a gente crescia ao ponto de poder trabalhar, ia pra roça ajudar. Pai mandava a gente ir na frente, enquanto ele botava água na cabaça. Mas eu sabia que ele queria ficar sozinho pra ir fazendo os poemas dele”. A filha Inês era menina de 10 anos quando começou a aprender a conviver com a poesia e o sol estridente, a chuva escassa e a precisão de tudo. “No tempo de pai é que era difícil. Não havia nem estrada para Assaré. Só umas veredinhas pra ir montado”. O caçula Pedro recorda quando ia levar o pai para um lugarejo chamado Anduras. “De lá, ele viajava para Assaré ou Crato. Marcava o dia da volta, eu tinha que tá lá esperando”. Na seca de 1958, Inês conta que o pai teve de ir para uma frente de serviço na Serra da Ema. Nessa época, Patativa já havia lançado Inspiração Nordestina (1956), era conhecido nas rodas matutas, e na cidade, por causa da viola que ele tocava na feira do Crato e nos sítios, nas disputas de repente

O Novo Nome

Antônio Gonçalves da Silva nasceu no dia 5 de março de 1909, na Serra de Santana, a 18 km de Assaré. Ganhou o apelido de Patativa dado pelo amigo José Carvalho, autor do livro O Matuto Cearense e o Caboclo do Pará, publicado em 1931 e que narra o encontro entre José Carvalho e o jovem Antônio.

Fonte: www.expopatativa.blogspot.com.br

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