Augusto Calheiros, cantor e compositor alagoano

(Maceió, 5 de junho de 1891 — Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1956)

Augusto Calheiros, cantor e compositor, iniciou sua carreira artística no Recife em meados dos anos 1920. Em 1927, como integrante do grupo pernambucano Turunas da Mauricéia, tranferiu-se para o Rio de Janeiro. A estréia do grupo no Rio de Janeiro ocorreu no Teatro Lírico, em espetáculo patrocinado pelo jornal Correio da Manhã, onde Augusto Calheiros fez enorme sucesso por causa de sua voz afinada e estilo peculiar de interpretação.

Caboclo forte de Maceió, descendente verdadeiro de índios, Augusto Calheiros nasceu na capital alagoana em 5.6.1891, numa família em boa situação, que começou a passar dificuldades com o falecimento do chefe, quando Calheiros tinha nove anos de idade. Rapazola, muda-se para Garanhuns, aí trabalhando como dono de bar, fabricante de sapatos, hoteleiro, subdelegado e carcereiro. A música, porém, sempre povoada seus sonhos e projetos. Cantava no cinema e teatro locais.

Em 1923, dá-se sua ida para a capital pernambucana, onde começa a atuar na Rádio Clube de Pernambuco (PRAP), inaugurada oficialmente, em 17.10.1923, como a Segunda rádio transmissora brasileira. Nada ganhava. Em 1926, forma o conjunto Turunas da Mauricéia, com João Frazão (diretor e violão), o cego Manoel de Lima (violão), os irmãos Romualdo (violão) e João Miranda (cavaquinho), e Luperce Miranda (bandolim).

No início de 1927, os Turunas, com o apoio do jornal Correio da Manhã, começam a divulgar a típica música nortista no Rio de Janeiro, com um sucesso nunca visto. Luperce Miranda, que tinha ficado no Recife por força de compromissos, só pôde se reincorporar ao conjunto algum tempo depois.

Nos espetáculos, cabia a Calheiros fazer a apresentação de cada um dos companheiros, através do recitativo de quadrinhas: “Cantamos canções do mato / Nem é outra a nossa Ideia / Dizem que somos fato / Turunas da Mauricéia”. Ao se referir a si mesmo, dizia: “Eu só sigo os companheiros / Minha vida é a canção / Chamam-me Augusto Calheiros / O cantador do sertão”.

As primeiras gravações dos Turunas difundiram por todo o Brasil a voz privilegiada de Calheiros, afinada, de dicção perfeita e grandes recursos. Os êxitos se sucedem, bem como as excursões, inclusive ao Sul do Brasil e Buenos Aires. Com o fim do grupo, em 1929, Calheiros prossegue cantando solo, nas rádios, gravações e nos teatros.

Depois, por alguns anos, atua na Casa de Caboclo, em cujo elenco também figuravam Jararaca e Ratinho, Dercy Gonçalves, Apolo Correa, Arthur Costa, entre outros. A Casa de Caboclo, teatro popular, fundado e dirigido por Duque (Antônio Lopes de Amorim Dinis), abriu suas cortinas, em 1932, com o objetivo de apresentar somente peças a músicas de autêntico sabor regionalista, portanto propício para a arte essencialmente brasileira de Calheiros.

Em 1936, canta no filme Maria Bonita, da Sonoarte.

Ao todo, em 78 rpm, deixou um legado de 80 discos com 154 música, o ultimo em 1955, mas só lançado no mês do seu falecimento.

Quando sobrevém a doença, vê-se desprovido de qualquer recurso, pois a vida boêmia o deixara pobre. É então socorrido pelo amigo Almirante, que muito o admirava. Almirante faz então circular um original Livro de Contos, com a finalidade de arrecadar o necessário ao seu tratamento. Em cada página, uma quadrinha sobre sua vida, devendo prender-se nela uma célula de mil cruzeiros (um conto de réis), com o que se alcançou, na denominação antiga, 114 “contos”. Calheiros, em 1955, havia sido um dos destaques do 2º Festival da Velha Guarda, em São Paulo, organizado por Almirante.

Calheiros, apesar da solidariedade recebida, vem a falecer em 11 de janeiro de 1956, no Rio de Janeiro, deixando uma única filha, Cleide, ainda bem pequena, e uma legenda inapagável na música popular brasileira.

SENHOR DA FLORESTA
Senhor da floresta / Um índio guerreiro da raça tupi / Vivia pescando / Sentado na margem do rio Chui / Seus olhos rasgados, no entanto / Fitavam ao longe uma taba / Na qual habitava / A filha formosa de um morubixaba. / Um dia encontraram / Senhor da floresta no rio Chui / Crivado de flechas, / De longe atiradas por outro tupi / E a filha formosa do morubixaba / Quando anoiteceu, correu / Subindo a montanha / No fundo do abismo desapareceu. / Naquele momento / Alguém viu no espaço, à luz do luar / Senhor da floresta de braços…

Maiores sucessos e gravações de Augusto Calheiros (ordem cronológica – fonte:  Wikipédia)

    1928 – Único Amor
1928 – Na Praia
1929 – Valsa da Saudade
1929 – Saudades do Rio Grande
1930 – Linda Cabocla (Artur Braga)
1930 – Teus Olhos Castanhos (Lamartine Babo e Bonfiglio de Oliveira)
1933 – Alma de Tupy (Jararaca)
1933 – Céu do Brasil
1933 – Flor do Mato (José Francisco de Freitas e Zeca Ivo)
1934 – Mané Fogueteiro (João de Barro)
1934 – Fui à Bahia
1935 – Falando ao Teu Retrato (Jayme Florence e João Cândido Ferreira)
1936 – Flor do Sertão (Carlos Lentini e Nei Orestes)
1937 – Revendo o Passado (Freire Júnior)
1937 – Foi da Bahia
1938 – Como és Linda Sorrindo (Gastão Lamounier e Mário Rossi)
1938 – Única Ventura
1939 – Minha Vida em Tuas Mãos
1940 – Ave Maria (Erotides de Campos e Jonas Melo)
1940 – Chuá Chuá (Ary Pavão e Pedro Sá Pereira)
1940 – Amar em Segredo
1941 – Casa Desmoronada (Antenor Borges e Pedro Fabio)
1945 – Bela
1945 – Senhor da Floresta (René Bittencourt)
1945 – Caboclo Vingador (Artur Goulart e José Colombo)
1945 – Célia (Augusto Calheiros e J. Rodrigues de Resende)
1946 – Meu Ranchinho (Miguel Lima)
1946 – Dúvida (Domingos Ramos e Luiz Gonzaga)
1947 – Fatal Desilusão
1947 – Prelúdios de Sonata (César Cruz)
1947 – Vida de Caboclo (José Luiz e J. Resende)
1947 – Garoto da Rua (René Bittencourt)
1950 – Adeus Pilar (Augusto Calheiros)
1950 – Pisa no Chão Devagar (Augusto Calheiros)
1950 – Grande Mágoa
1952 – Serenata Matuta (Levino Ferreira)
1952 – Sonhando ao Mar (Davi Vasconcelos)
1953 – Ave Maria (Erotides de Campos e Jonas Melo)
1953 – Como És Linda Sorrindo (Gastão Lamounier e Mário Rossi) – lançada em 1938
1953 – Belezas do Sertão (Augusto Calheiros e Luperce Miranda)
1953 – Cabocla Pureza
1954 – Audiência Divina (Guilherme de Brito)
1954 – Meu Dilema (Guilherme de Brito)
1955 – Adda (Mário Ramos e Salvador Moraes)

Fonte de pesquisa: www.cultura.al.gov.br

RÁDIO CORREIO AM 1200 - MACEIÓ