Personagens coloridas apresentam patrimônio alagoano para crianças
18/10/2021
Material é produzido por pesquisadores do Relu da FAU e pode ser baixado gratuitamente
Apresentar às crianças alagoanas as figuras ilustres, a arquitetura, as comidas típicas, os folguedos, além do rico artesanato de Alagoas, fazendo-as com que se apropriem e se reconheçam diante das características do Estado em que vivem. Essa é uma das linhas de atuação do grupo de pesquisa Representações do Lugar (Relu), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Ufal, ao promover ações de educação patrimonial direcionadas para o público infantil.
Para cumprir essa missão, personagens coloridos que remetem à cultura alagoana, como Diana do Pastoril, Dandara, Bumba, Branquinha, Theo e demais integrantes da Turma do Guerreirinho que, atualmente, conta com 18 mascotes. “Tudo é criado a partir de muita pesquisa para que nada fique equivocado. Os nomes também são cuidadosamente escolhidos e homenageiam personagens e personalidades de nossa cultura e história”, destacou a professora da FAU e líder do Relu, Adriana Capretz. Entre os homenageados, além dos folguedos, estão a médica psiquiatra Nise da Silveira, o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, o poeta Jorge de Lima, o instrumentista Hermeto Pascoal e a jogadora Marta.
Todos os materiais até então produzidos, no total de 13 arquivos em PDF, estão disponíveis para baixar gratuitamente e, nesse período de pandemia, vêm auxiliando pais e educadores a divertirem as crianças. Folclore alagoano, Dicas de preservação de livros e material escolar, Curiosidades e Atividades sobre o Dia Nacional do Futebol, Colorindo Maceió, Dia do Índio, Decoração junina e Dia do Artista Plástico são alguns dos títulos que podem ser baixados pelo Instagram @relu.ufal e @tatipirun.relu. Este último é da marca criada pelo grupo para atuar na área de educação patrimonial para os pequenos.
Ainda em andamento, o Relu trabalha na produção de outros livros: Sereias Alagoanas, apresentando histórias de alagoanas inspiradoras (projeto que pode ser visto no perfil do Instagram @sereias.alagoanas); Devoção alagoana, iniciativaque mostra os santos e os lugares de sua devoção pelos alagoanos e a construção do Atlas Cultural de Alagoas. Além dessas publicações que estão sendo preparadas, também está sendo formatado um projeto de extensão com o objetivo de oferecer a escolas um programa de educação patrimonial.
“Em decorrência da adoção do nosso material pelas unidades de ensino, veio a ideia de criarmos um programa de extensão, cuja chamada pública para as escolas será feita a partir da segunda quinzena de setembro”, adianta a professora. Docentes e diretores, fiquem de olho na oportunidade!
Inspiração
Realizando trabalhos sobre educação patrimonial desde 2010, quando criou o Portal de Arquitetura Alagoana, um site que apresenta edificações de Maceió com informações históricas e imagens, Adriana Capretz relata que a inspiração para se debruçar sobre a produção de material para as crianças foi o nascimento dos filhos.
“Eles foram a minha real motivação para voltar meus trabalhos de educação patrimonial para o público infantil, tanto que tem dois personagens que foram inspirados neles: os matutinhos Branquinha e Theo”, contou.
Paulista de Ribeirão Preto, ela conta que Branca e Théo despertaram nela uma história de amor com o Estado e o sentimento de “pertencimento”. Os nomes das crianças, inclusive, foram escolhidos como forma de homenagear o lugar: o da menina remete a cidades alagoanas como Branquinha, Água Branca; e o do pequeno, ao folclorista alagoano Théo Brandão, que nomeia o museu da Ufal.
“Vim pela primeira vez a Alagoas para o concurso da Ufal, em 2008, e demorei muito para me adaptar e fazer amigos, pois sentia muita saudade das pessoas com quem que eu convivia antes”, recordou a professora.
Ainda de acordo com Capretz, foram os filhos que promoveram o estabelecimento de raízes mais profundas. “Desde que eles nasceram, passei a querer tão bem a este Estado, que é a terra natal dos meus filhos, que o mínimo que eu poderia fazer era contribuir com o que eu sei fazer, que é atuando na preservação do patrimônio e apostando em quem de fato poderá mudar nossa triste realidade, que são as crianças”, afirma.
Pesquisa dedicada aos pequenos
O interesse de Capretz pela literatura na infância já vinha de antes, mas o nascimento das crianças a fez ser mais criteriosa. A falta de livros sobre a história e a cultura alagoanas para o público infantil, respeitando a linguagem, a estética e o conteúdo, bem como a existência de “conteúdos fracos ou até equivocados”, motivou ainda mais a professora para pesquisar e produzir material sobre a temática.
“Passei também a me aprofundar em aspectos que compõem as obras infantis. Para isso, inevitavelmente, adentrei em áreas que não são de minha formação de arquiteta e designer gráfico, que são a pedagogia, a língua portuguesa e até a psicologia, mas essa multidisciplinaridade sempre fez parte da minha formação, pois sou técnica em música erudita, lecionei muitos anos para crianças, sou graduada em arquitetura e urbanismo, com mestrado em engenharia urbana e o doutorado em ciências sociais”, detalha.
Ela conta que em 2016 começou a se dedicar de forma mais efetiva a pesquisar atividades tendo como foco Alagoas. Naquele ano, foi testada a criação de três mascotes. “Para isso, contei com a experiente ilustradora Christianne Kelly Cavalcante da Silva, mais conhecida como Chris K., que naquela época estava no último ano da graduação em Design, fazendo parte do Relu como colaboradora Pibic [Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica]. Chris foi quem deu ‘vida’ ao Guerreirinho, à Dandara e à Diana. E com eles surgiu a Turma do Guerreirinho”, recorda.
Contato com o público
O ano de 2019 foi um marco para o grupo de pesquisa Relu, aponta a professora, por causa da participação na 9ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, maior evento literário do Estado e liderado pela Ufal, o que possibilitou um maior contato com o público.
Com o apoio de estudantes do curso de Design da Universidade e de empresas de Maceió, durante dez dias, o grupo realizou oficinas com o tema Brincando e Aprendendo sobre Alagoas com a Turma do Guerreirinho. “Os alunos matriculados na disciplina Atividades Curriculares de Extensão, sob minha orientação e de Adriana Guimarães, criaram mobiliário, decoraram a barraca e se revezaram em oficinas de desenhos, chapéus de guerreiros, caligrafia criativa, recortes e muito mais. Preparamos um lindo material para crianças”, lembra orgulhosa.
Ainda durante a Bienal, conta a docente, foram criados novos personagens, ilustrados por Ana Caroline Bastos, além dos desenhos das arquiteturas feitos por Giovani de Melo Gomes e Alexandre Lopes Olegário Acioli. Todos alunos de Design e bolsistas Pibic do grupo de pesquisa.
“A Bienal foi um divisor de águas para o Relu e para mim que tive certeza que, a partir dali, era aquela a contribuição que eu, enquanto professora e pesquisadora, deveria dar a Alagoas”, afirma.
Dessa experiência, surgiram parcerias com o Arquivo Público de Alagoas. Mensalmente, o grupo Relu passou a atuar no evento Suquinho de Memória, que já era realizado pelo Arquivo. “Criamos a mascote do Suquinho, que é o Moacirzinho, em homenagem ao professor Moacir Medeiros de Sant’Anna, que esteve a frente desse espaço por grande parte de sua vida”, relata.
Ainda segundo a professora, também foi criado o Calendário Cultural com todas as datas comemorativas do ano de 2020, baseado no livro Efemérides de Alagoas de autoria do referido professor. O material ia ser impresso pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, com data de lançamento em 25 de março deste ano. Por causa da pandemia, o lançamento do Calendário acabou sendo cancelado, mas foi disponibilizado para ser baixado em PDF gratuitamente.
Mesmo com as medidas de distanciamento social, a parceria continuou por meio de propostas de atividades entre a Turma do Guerreirinho e o Moacirzinho. “Fomos criando várias atividades, seguindo as festividades, como o Mês dos Museus, o São João, o Dia Mundial do Futebol e o Mês do Folclore. Já estamos nos organizando para lançarmos um grande material para o Dia das Crianças e propormos uma parceria com as escolas de Alagoas em um programa de extensão”, diz.
Mais sobre o Relu
O Relu existe há 16 anos, um dos grupos de pesquisa mais antigos da FAU, e realiza trabalhos voltados para a observação da dinâmica das cidades e das relações entre espaço e tempo. “Encaminhamos investigações sobre as diversas dimensões analíticas do ‘lugar’, elegendo enfoques teórico-metodológicos multi e interdisciplinares necessários à captação dos diversos tipos de representações, tais como históricas, culturais, espaciais, simbólicas, estéticas e sociais”, explica Adriana Capretz.
O grupo de pesquisa atua nas linhas de Arquitetura do lugar e Imagens urbanas; Metodologias de apreensão da forma do lugar; Estudo, divulgação e preservação do Patrimônio Material e Imaterial; Análise e representação da forma na arquitetura, na cidade e nas artes; Representações do lugar a partir das novas tecnologias da informação e comunicação.
Além de Capretz, Adriana Guimarães e Josemary Ferrare são as outras professoras integrantes do Relu e também desenvolvem pesquisas cujo foco é a preservação do patrimônio cultural alagoano. “A Adriana [Guimarães] e a Josemary têm muitos trabalhos práticos de inventários para registro de patrimônio imaterial, tais como do bico e renda Singeleza, o doce de caju de Ipioca e, atualmente, estão trabalhando para o registro da Singeleza em nível nacional. Além disso, ambas também são restauradoras, tendo atuado nos restauros do Museu Théo Brandão, Chalé dos Loureiro, em Penedo, e da Associação Comercial”, destaca a docente.
Outras ações do grupo
Além das pesquisas, ações de extensão e eventos sobre preservação, o Representações do Lugar é engajado em várias demandas de interesse iminente da sociedade, apoiando ações de outros órgãos públicos. “Uma das atividades constantes do Relu, ao longo dos anos, são os diversos dossiês elaborados para fins de registro ou tombamento do patrimônio material e imaterial de Alagoas”, destaca Capretz.
Atualmente, as pesquisadoras estão envolvidas em “ações que questionam o risco de desaparecimento do patrimônio histórico da área atingida pela tragédia ambiental ocasionada pela Braskem”.