Homenagem ao poeta que amou a natureza

João Pereira da Luz, mas conhecido como João Paraibano foi um poeta e repentista paraibano, que viveu muitos anos em Afogados da Ingazeira no Sertão Pernambucano. João nunca frequentou escola, mas sempre criou seus versos de improviso, foi um dos principais repentistas do país, e participou de dezenas de festivais pelo Brasil inteiro.

João Paraibano é considerado por muitos apologistas e admiradores da cantoria e do repente, um dos maiores cantadores de repente no braço da viola. Sua grandeza fica ainda maior quando o tema refere-se ao Sertão, onde ao longo desses anos tornou-se especialista no tema. Entretanto, foi um grande poeta cantando tantos outros assuntos da cultura popular de improviso.

O repentista foi ganhador de vários festivais de violeiros, com três participações no Fantástico pela Rede Globo de Televisão, juntamente com o poeta Sebastião Dias. A natureza era a sua maior especialidade e o levou a cantar motes consistentes que é comum nos grandes poetas repentistas. Sua bagagem cultural é grandiosa, sua inspiração o tornou presença em grandes festivais que acontece no Nordeste e Sudeste.

Este nobre poeta fez várias apresentações com diversos cantadores da viola, como, por exemplo: Ivanildo Vilanova, Sebastião da Silva, Sebastião Dias, Valdir Teles, Severino Ferreira, Severino Feitosa, Moacir Laurentino, Geraldo Amâncio, Raimundo Caetano, Nonato Costa e Raimundo Nonato (Os Nonatos), entre outros tantos gênios poetas do improviso. Sebastião Dias foi quem mais o acompanhou em congressos e cantorias “pé-de-parede”, por esse Brasil afora.

O poeta certo dia estava em uma festa e devido a uma briga com sua esposa, por motivos de ciúmes, foi preso. Conta-se que quando se viu preso o poeta aos prantos e em estado de embriaguez, declamou os seguintes versos de improviso para o delegado:

Doutor eu sei que errei

Por dois fatos: dama e porre.

Por amor se mata e morre.

Eu nem morri, nem matei,

Apenas prejudiquei

Um ambiente de classe.

*

Depois de apanhar na face

Bati na flor do meu ramo.

Me prenderam porque amo

Quanto mais se eu odiasse.

Poeta mesmo ofendido

Sabe oferecer afeto.

*

Faz pena dormir no teto

Da morada de um bandido,

Se humilha, faz pedido

Ninguém escuta a voz sua,

Não vê o sol, nem a lua

Deixar o espaço aceso.

*

Por que um poeta preso

Com tantos ladrões na rua?

Sei que não sou marginal,

Mas por ciúmes de alguém,

Bebi pra fazer o bem,

Terminei fazendo o mal.

*

Eu tendo casa, quintal,

Portão, cortina, janela,

Deixei pra dormir na cela

Com a minha cabeça lesa,

Só sabe a cruz quanto pesa

Quem está carregando ela.

*

Poeta é um passarinho

Que quando está na cadeia

Sua pena fica feia,

Sente saudade do ninho,

Do calor do filhotinho,

Da fonte da imensidade.

*

Se come deixa a metade

Da ração que o dono bota,

Se canta esquece da nota

Da canção da liberdade.

*

Doutor, se eu perder meu nome

Não acho mais quem o empreste,

A minha mulher não veste,

Minha filhinha não come

E a minha fama se some

Para nunca mais voltar.

*

Não querendo lhe comprar,

Mas humildemente peço:

Se puder, rasgue o processo

E deixe o poeta cantar.

João Pereira da Luz, nasceu em Princesa Izabel – PB, em 1952, faleceu em 1º de setembro de 2014, aos 62 anos,após passar 21 dias internado na UTI do Hospital Alfa, Recife, lutando contra uma infecção contraída durante o tratamento de um coágulo na cabeça surgido depois de um acidente em agosto.

Fonte:www.santannacantador.com.br

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