Mestre Jaime Oliveira, do Guerreiro Alagoano

Mestre Jaime de Oliveira

Djalma José de Oliveira  foi o afamado mestre de guerreiro. Nasceu em Belo Jardim/PE, filho de José Germano de Oliveira e Angélica da Conceição. Mestre Jaime, como é conhecido, começou a dançar guerreiro com treze anos de idade, tendo como mestres Francisco Jupi  e João Inácio de Atalaia, seguido de Ismerita, de Murici.

“A eles deve tudo o que sei, foram eles que me fizeram o mestre que sou hoje”, comentou com humildade Mestre Jaime.

Mas, por trás deste reconhecimento, existe um mestre Jaime muito vaidoso, não só do seu dom de rima mas no cuidado como a aparência. Sempre elegante, vestindo camisa de mangas compridas de cambraia de linho e calças social, nunca de chinelos, sempre de sapatos muito bem polidos. Isto quando não está impecavelmente trajando sua indumentária de mestre de guerreiro e seu belíssimo chapéu, em forma de igreja, confeccionado por ele próprio.

“Não tenho preguiça de nada, muito menos de cantar, sou bom na rima, no improviso e na memória. Não tem uma peça que eu já tenha cantado que tenha esquecido. A inspiração veio quando ouvi uma cantoria de vaqueiros que estavam tangendo os bois e cantando boiada, aí abriu a veia da poesia, a chave da minha cabeça e nunca mais fechou”.

Sempre sorridente, dizia que quem dança guerreiro não pode ser triste. Já fez de tudo um pouco quando era rapaz. Cantou com as baianas, fez emboladas, pagode, viola e guerreiro. E confessava: “É do guerreiro que eu gosto mais e foi com ele que fiquei”.

Em Coruripe, onde reside, dançou no guerreiro “Águia Negra” e em Maceió é, durante muitos anos, mestre do guerreiro “Leão Devorador” fundado na Chão da Jaqueira pela amiga e comadre, mestra Vitória, no qual também dança sua esposa, Dolores Gomes, como sereia, com quem está casado a mais de 30 anos e sempre fez questão de acompanhá-lo em suas andanças.

Para ele a grande rainha de guerreiro que conheceu foi Maria Delmira e depois Maria Pinheiro, ambas de Rio Largo.

Hilton da Capela, o mais interessante dos palhaços , Verdelinho o melhor mateu, Maria das Dores a melhor Lira, Zé Índio o melhor índio de guerreiro, e completou: “um mestre para ser bom tem que saber as 25 partes do guerreiro e,  igual a mim, bom como eu, só o mestre Adelmo de Atalaia.

Mestre Jaime é um poeta do cotidiano que narra fatos ocorridos no dia a dia, como é o caso das peças que fez quando caiu um avião em Chã Preta, a enchente em Viçosa, a morte dos xangozeiros, um fato interessante que ocorreu em Juazeiro do Norte “quando o prefeito cortou um pé de pau que o Padre Cícero tinha plantado”, entre outros.

Lamentava não poder mais dançar como antigamente, -“as pernas já não são tão boas, só servem para andar em casa e ainda fazer um pouco de gingado”, diz sorrindo mestre Jaime.

Mas, ainda canta, a peça de sua autoria que mais admira:

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“Minha rainha eu vou cantar em tom de moda
Dei uma prosa naquela terra fagueira
Ou, minha madeira, eu vou mudar de tom
Eu achei bom essa linda brincadeira
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Ainda me lembro quando ainda era criança
Tenho lembrança que a minha mamãe cantava
Quando eu olhava pro céu di ani
Em um jardim que a jardineira voava”
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É considerado Patrimônio Vivo pela Lei do Registro do Patrimônio Vivo de Alagoas e recebeu o “Premio de Cultura Popular “Humberto Maracanã”, do Ministério da Cultura, e era reconhecido como um dos mais brilhantes e atuantes mestres do folclore de Alagoas.

Mestre Jaime de Oliveira, ou Nêgo Jaime, como ele gostava de ser chamado, faleceu em 21/08/2010, devido a problemas respiratórios. É a geração pioneira dos mestres do Guerreiro Alagoano indo para a eternidade, deixando seus ensinamentos para a nova safra de brincantes, compromissados com as nossas raízes culturais.

 Fonte: NOVAES, Josefina Maria Medeiros. ASFOPAL – Associação de Folguedos Populares de Alagoas – 25 Anos Brincando Sério. Maceió

 

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