Maracatu

Xilogravura com o tema do Maracatu

Vamos seguir mais de perto um outro estudo sobre uma outra dança tradicional negra que provavelmente tem sua origem nos cortejos reais africanos de Pernambuco. Trata-se do Maracatu. Leonardo Dantas Silva publicou um artigo sobre o Maracatu de Recife, mostrando como seu caráter religioso vai dando lugar a uma forma profana.Para Dantas, o Maracatu tem sua origem nos préstitos de coroação dos reis e rainhas negros patrocinados pelas irmandades de Nossa Senhora do Rosárioe de São Benedito, que por sua vez existiam desde o século XVI noBrasil, promovidas pela própria administração colonial portuguesa.

Essa prática já existia na Espanha e França desde o século XV. A prática da coroação é conhecida, através dos documentos, em “Sevilha quando a 11 de novembro de 1475 os Reis Católicos deram o titulo de ‘Mayoral’ de todos os negros cativos ou forros a Juan de Valladolid; em Lisboa, desde 1563, e na França, a partir de 1498. No Recife esse costume é conhecido documentadamente, desde 1674, segundo assentamento dos livros da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no bairro de Santo Antônio, que tratam das coroações dos reis e rainhas de Angola. A mais importante dessas coroações era a do Congo, cuja organização se baseava numa verdadeira hierarquia de poder, com reis, vice-reis, duques, governadores, mestres-de-campo, coronéis, capitães-mandantes, provedores, juízes-de-fora e conselheiros-mor.

Se o objetivo original de incentivar os negros a realizar as coroações era criar hierarquias para facilitar o controle dos mesmos, não parece ser com esse sentido que os pretos praticavam o Maracatu ou os reinados do Congo. Pelo menos é o que mostra uma série de problemas que essas tradições terão com as autoridades políticas e policiais, ao longo do século XVllI e XIX. Durante o governo de José Cezar de Menezes (1774-1788), tanto o Maracatu quanto outros bailes e batuques organizados pelos pretos sofreram censuras e até intervenção policial.

A partir da segunda metade do século XlX, também sokeram perseguições, segundo mostram diversos diários de Pernambuco da década de 1850.10 Num deles temos a referência de um Maracatu que sai para comemorar a viagem de vários negros libertos de volta a África, um exemplo em que os significados da festa estão completamente dissociados dos festejos religiosos de Nossa Senhora do Rosário, e simbolizam muito mais o desejo de retorno a terra natal, de onde foramarrancados para o cativeiro, do que fazer reverência a uma santa católica dos pretos. O festejo do Maracatu, nas ocasiões em que negros embarcavam de voltava a África, mostra que a idéia de pátria dos pretos oscilava entre o Brasil e a África, as vezes mais para o lado de lá do que o lado de cá.

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