Maria de Lourdes Menezes, Artesã de Bonecas

Dona Lourdes, Artesã de Bonecas

As mãos de Maria de Lourdes Menezes, conhecida como Dona Lourdes, têm muito a contar. Marcadas pelos sinais do tempo, elas ainda guardam as lembranças do batente nas casas de família de Piaçabuçu, Alagoas e nas plantações de arroz da cidade. O trabalho sempre ajudou no sustento, mas não escondeu o verdadeiro dom: a senhora de 69 anos transforma retalhos e linhas para criar delicadas bonecas de pano.

Foi às margens do São Francisco que a bonequeira profissional – e agora mestra do Patrimônio Vivo de Alagoas – nasceu e iniciou, ainda menina, sua trajetória. A técnica, herdada da avó, foi aperfeiçoada. “As da minha avó eram diferentes, não eram como as minhas. Quando comecei, também não fazia bonecas tão elaboradas. Com o tempo, fui aperfeiçoando cada vez mais”, conta.

A profissionalização veio aos 22 anos, sem ajuda de professores. “Aprendi mesmo sozinha e posso dizer que é um dom que Deus me deu. Tudo que aprendi foi por vontade própria, até porque, naquela época, não tinha quem ensinasse”, conta a artesã. Hoje, no entanto, a realidade é bem diferente: ainda às margens do rio, a até então única artista de bonecas da região não só vende sua produção, como também divide o conhecimento com as mulheres do local.

Os ensinamentos são repassados em oficinas da ONG Velho Chico, que tem ajudado a mestra Lourdes em seu trabalho. Algumas das alunas já estão formadas e levando a arte adiante. As bonecas fabricadas pela mestra e suas pupilas são vendidas na instituição e em lojas da cidade a valores que variam de R$ 3,00 – as do tipo chaveirinho – a R$ 50,00, as maiores. “A demanda é tanta que temos trabalhado sob encomenda, pois não conseguimos suprir as vendas”, diz um dos responsáveis pela Velho Chico, Jaziel Martins.

Criatividade

A produção é diversificada e inclui vaqueiros, índios, guerreiros, personagens da chegança e representações de Bom Jesus dos Navegantes – protetor dos pescadores e a opção mais vendida. A criatividade não para por aí e quase tudo pode se transformar em arte pelas mãos da mestra Lourdes. Com 47 anos de carreira, ela cria até com o que iria para o lixo, como embalagens de café e guarda-chuvas velhos.

A maior parte do material utilizado vem de doações feitas pela população local e o tempo para que cada boneca fique pronta varia entre dois e quatro dias, dependendo do tamanho e da complexidade do artigo. Mesmo com tanto trabalho, a mestra revela que cada venda é uma felicidade. “Crio com todo o amor e me entrego de corpo e alma. Quando elas são vendidas é uma maravilha, pois sei que alguém gostou do que eu fiz”, diz ela.

Os bibelôs fazem sucesso e são comprados por turistas de todos os lugares. Até mesmo o Ministério da Cultura (Minc) e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) já fizeram encomendas. O reconhecimento é motivo de alegria para dona Lourdes, que se orgulha, ainda, de uma venda em especial. “Minhas bonecas já foram vendidas até para os Estados Unidos. Eu não conheço o país, mas minhas bonecas conhecem”, conta, entre risos.

A bonequeira Maria de Lourdes Menezes, foi contemplada com o título de Mestra do Patrimônio Vivo de Alagoas, em 2011. Com a bolsa vitalícia de 1,5 salário mínimo por mês, ela diz que pretende inovar ainda mais. “Também gosto de fazer ursinhos, mas não podia comprar a pelúcia. Com esse dinheiro, vou poder”, diz, feliz, a rainha das bonecas,

Fonte: www.cultura.al.gov.br  * Foto: Tércio Campello

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