O publicista luso Sr. Agostinho Fortes escreveu, não há muito, em ao folclore de seu pais: – “ O Romanceiro popular, até mesmo nalgumas de suas quadras tão finamente satíricas e algumas tão artisticamente delineadas que dir-se-iam obra de impecável estética, recorre ao adágio, vai beber à fonte inesgotável e sempre viva da sabedoria das nações muitos dos seus dizeres, grande numero dos seus conselhos, ora facetos e despeitados, ora cruentamente agressivos e provocadores”.
É o que se observa na poesia popular nordestina, conforme o notou o Sr. Tristão de Ataíde, ao escrever que “ o senso inato das coisas , a que chamamos sabedoria popular, reflete-se muitas vezes nessa poesia, onde o espírito é sempre vivo e dominante “.
Efetivamente, o cantador nordestino castiga a vaidade humana e estigmatizada as gloriólas terrenas, lembrado que:
Um fósfo acaba um Palácio, Neblina acaba uma feira…
mostra como são de Asfaltite os pomos apetecidos pela cupidez de nossos desejos:
Nunca vi segundo prato
Ter o gosto do primeiro…
Revela quais sejam as verdadeiras vítimas das crises financeiras e econômicas, explicando que
… o pobre somente teme, Porque, quando o rico geme, O pobre é quem sente a dor…
Faz o elogio da previdência, setenciando:
Quem quer comer na velhice, Já em moço vai juntando…
Repele e anula os efeitos da maledicência dos perversos, estabelecendo que
Na boca de quem não presta, quem é bom não tem valia…
Alardeia que não deve temer o menos quem já sofreu o mais:
Que foi molhado na chuva, Não tem medo do sereno…
Verbera o domínio da injustiça, esclarecendo que a Igualdade é uma ficção:
O mundo está de tal forma
Que ninguém pode entender:
Uns devem, porém não pagam…
Outros pagam, sem dever…
Ironiza a ridícula sutileza dos convencionalismos eufêmicos:
O pobre fica “maluco”, O rico fica “nervoso”…
Enuncia em versos verdades comezinhas, inspiradas por fatos de observação às vezes privativa do meio ambiente:
-Pau seco não dá embira, nem corda velha dá nó…
-A formiga bem que sabe qual é a folha que come…
-A gente, andando de dois, encurta mais os caminhos…
-Quando a gente tora um pau, rejéta logo a raiz…
-Corda puxada se quebra, medida cheia derrama…
-Saco não se apruma, Sabão ruim não faz espuma…
-Pau podre na mata cobra, comida boa não sobra…
E, afinal, cioso da própria pugnacidade, tem fanfarronadas típicas:
-Antes brigar co gunvêrno do que ter questão comigo! …
-Nunca enjeite Perú gordo, nem Pato, por carregado…
-Me cortem que eu nasço sempre, sou que nem soca de cana…
-Não corro antes do tempo, não corro sem ver de quê…
-O Porco morre é na véspra, o Homem morre é na hora…
Fonte: Extraido do livro Violeiros do Norte. Leonardo Mota,1891-1948