Um homem civilizado

O poeta Francisco Carvalho faz uma homenagem ao jornalista, escritor e dramaturgo Manuel Eduardo Pinheiro Campos, que recentemente completou oitenta anos. O poeta ressalta as qualidades intelectuais do homenageado, colocando-o no panteão dos grandes escritores cearenses. Manuel Eduardo Pinheiro Campos, recém-entrado na casa dos oitenta é, antes de tudo, um homem civilizado. Trafega, com invejável desenvoltura, em todos os segmentos da sociedade, desfruta do respeito e da admiração dos inúmeros amigos e admiradores, que formam o seu vato círculo de amizades, o que não significa pouca coisa nestes tempos de cordialidades agressivas e de selvagem disputa pela conquista do poder, em qualquer nível das atividades humanas.

 Quando li “Os Sertões” pela primeira vez (isso aconteceu no final da década de cinqüenta do século passado), parei para pensar diante deste dilema proposto por Euclides da Cunha: “Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou morremos”. Oportuno advertir que não se trata de um falso dilema. O destino da espécie humana inclina-se para um constante processo civilizatório, que se desenvolve gradativamente ao longo dos séculos.

 Ou renunciamos à barbárie ou estamos condenados a desaparecer da face da terra. Falar do homem e do escritor Eduardo Campos, nascido ali na bucólica Pacatuba, é falar de uma pessoa que esbanja magnetismo pessoal e extraordinária capacidade de comunicação. Um homem que maneja várias ferramentas, possuidor de uma curiosidade intelectual que o emparelha com outras figuras destacadas das Letras cearenses. Em muitos aspectos, pode ser comparado a Gustavo Barroso e Raimundo Girão, dois estudiosos apaixonados pela riqueza temática da História do Ceará. Eduardo Campos chega aos oitenta com um vigor intelectual de fazer inveja a muita gente.

 Em sua trajetória de escritor bem-sucedido, publicou até agora mais de sessenta títulos, abrangendo contos, romances e peças de teatro. A estes se acrescentam vários outros, de indiscutível repercussão nos meios literários, dedicados a trabalhos de pesquisa sobre assuntos os mais diversos. Inclusive estudos substanciais a respeito das vertentes populares da medicina no Ceará e no Nordeste.

Importa ressaltar que não se trata de um escritor preocupado com o aspecto quantitativo do seu legado bibliográfico. No campo da pesquisa ou da ficção, os seus livros sempre foram aplaudidos pela crítica e conquistaram o reconhecimento dos leitores. Em qualquer dos gêneros pelos quais fez opção, seus méritos o credenciam a ser colocado na galeria dos autores brasileiros mais importantes da atualidade.

Se a projeção de Eduardo Campos, em nível nacional, não corresponde à qualidade de sua produção literária e ensaística, deve-se ao fato de as elites do Sul, de acordo com reiteradas afirmações do jornalista Lustosa da Costa, não acreditarem na existência de vida inteligente, fora do eixo Rio/São Paulo. Essas elites, com a sua costumeira arrogância, é que decidem sobre a moda das roupas e da literatura que se produz no país.

Quando jovem, atuou com brilhantismo na incipiente radiofonia do Ceará, ao lado de outras figuras de autênticos pioneiros que contribuíram para a implantação e consolidação das atividades radiofônicas em nossa terra. Mais tarde ocuparia posição de relevo à frente das empresas cearenses ligadas ao complexo empresarial dos Diários Associados, capitaneado pela figura polêmica e voluntariosa do paraibano Assis Chateaubriand.

Com estes breves e superficiais comentários, desejo render as minhas homenagens ao amigo e escritor Eduardo Campos, que vem de atingir a gloriosa idade de oitenta anos, cercado pelo carinho da família e dos muitos amigos e admiradores que conquistou ao longo de uma vida de lutas e de realizações intelectuais. O ficcionista que foi capaz de criar uma legião de personagens, deu-lhes vida, sentimento e emoção, não terá razões para se sentir solitário. Pois está cercado de pessoas
que, embora existam apenas no plano simbólico, continuarão a dialogar com o seu criador pelo tempo afora, como se fossem criaturas de verdade, dessas que dividem conosco os encantos e desencantos da aventura cotidiana.

São vários os textos das Sagradas Escrituras em que se atribui o privilégio da longevidade a um dom de Deus. Partindo da premissa de que o pressuposto é verdadeiro, pode-se concluir que Eduardo Campos tem sido generosamente contemplado com as benesses do Alto. Pelo que é e pelo que realizou em sua existência fecunda, poderia subscrever, com absoluta propriedade, esta sextilha admirável, de autoria do genial repentista paraibano Elísio Félix da Costa, conhecido pela alcunha de Canhotinho, a qual foi extraída da Antologia Ilustrada dos Cantadores, organizada por Francisco Linhares e Otacílio Batista e publicada pela Imprensa Universitária da UFC, em 1982:

“Esta minha cabeleira,

 Que com os anos se maltrata:

preto como veludo, foi branda como cascata;

 É hoje um lençol de neve

Numa montanha de prata”.

Francisco Carvalho Poeta

Fonte: www.eduardocampos.jor.br  * Diário do Nordeste

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