SAMARICA PARTEIRA: VIAGEM PELO UNIVERSO NORDESTINO

Maria da Silva – Curso Técnico Integrado de Alimentos – IFRN – Câmpus Currais Novos
Marta Helena Feitosa Silva – Professora de Língua Portuguesa do ensino básico – IFRN – Câmpus Currais Novos

INTRODUÇÃO:

Este artigo pretende levar o leitor a fazer uma viagem pelas marcas do Nordeste encontradas no causo “Samarica Parteira”, escrito por Zé Dantas e interpretado por Luiz Gonzaga. O causo interpretado pelo rei do baião foi lançado pela primeira vez no ano de 2005, no disco que recebeu o nome da própria música. No causo podem-se perceber alguns aspectos do sertão, como, por exemplo: o falar, a maneira como no Nordeste se dá a comunicação, as variações linguísticas, expressões idiomáticas etc. Para orientar essas reflexões, tomou-se como base o estudo de Bagno sobre preconceito linguistico.

Verificou-se, também, a importância que as parteiras tiveram e ainda têm para determinados lugares onde o acesso a hospitais é difícil; as superstições, os tratamentos e remédios populares que se constituem costumes do povo da região; o reflexo da autoridade que os coronéis exerciam em outras épocas; e também a fé que as pessoas tinham em criaturas divinas e a confiança que eles tinham de que os Santos podiam ajudá-los em diferentes situações, crença que perdura até os dias atuais. Os aspectos literários não foram esquecidos pelo autor. Para mostrar o relevo da região, o autor utiliza onomatopeias e ainda há a presença da personificação dos animas, acentua o caráter humorístico do texto.

OBJETIVO DO TRABALHO:

Este trabalho visa elencar algumas manifestações culturais do sertanejo encontradas no causo Samarica Parteira, considerando as variações linguísticas e a forma como as pessoas se comunicam e se relacionam. Ao mesmo tempo, pretende valorizar a obra de dois pernambucanos: o compositor Zé Dantas, por contemplar a cultura nordestina; e Luiz Gonzaga, por difundi-la por meio da sua interpretação.

MÉTODOS:

Inicialmente, em sala de aula, houve a oportunidade de se ler e ouvir a interpretação de Luiz Gonzaga do causo Samarica Parteira. O texto foi analisado oralmente e, ainda em classe, foi dividido em partes e cada grupo se encarregou de estudar as variações linguísticas em determinados trechos do causo. Em casa, os alunos pesquisaram sobre temas suplementares da cultura nordestina, organizando um trabalho escrito e uma apresentação sobre as marcas do sertanejo encontradas, no dia da apresentação além das informações já mencionadas, foi apresentada uma ilustração representando a cena estudada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Após a leitura e o estudo do causo Samarica Parteira, foi possível verificar como um texto consegue transplantar o universo de determinada região, neste caso, o Nordeste. As variações linguísticas, amplamente verificadas na obra, permitem conhecer o modo de falar do sertanejo e revelam que seu uso obedece a determinada estrutura que, embora fuja da língua padrão, não pode de forma alguma ser considerada erro, mas antes, uma variante regional rica, e cheia de significados. Verificou-se também que o autor procura valorizar em seu tecto aspectos intrinsecamente relacionados a cultura local, representativa de determinada época histórica, tais como o coronelismo e a profissão de parteira. Não se esqueceu também de tratar da religiosidade, marca forte do povo da região Nordeste, bem como de seu hábito de utilizar a medicina popular, dada a escassez de recursos médicos em determinadas áreas, o que ainda hoje é frequente. Do ponto de vista literário, a obra assume importância em virtude da exploração abundante das onomatopeias, pontuação expressiva, e demais recursos estilísticos explorados pelo autor.

CONCLUSÕES:

O compositor Zé Dantas mostrou-se profundo conhecedor da cultura nordestina através de toda sua obra, mas, em especial, de Samarica Parteira. Este causo proporciona ao leitor/ouvinte uma verdadeira viagem ao universo nordestino. Essa viagem torna-se ainda mais significativa, através da voz inconfundível do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. É possível apreciar a voz do sertanejo, o seu jeito de se comunicar, de tratar um ao outro nas situações cotidianas. Pode-se ainda identificar os registros orais tão próprios do povo nordestino além de traços específicos de sua cultura: religiosidade, autoritarismo por parte dos coronéis, uso de medicina popular, superstições. Zé Dantas também se preocupou em representar o relevo da região para que o leitor pudesse visualizar o ambiente geográfico onde a história se passa. O compositor também não se esqueceu de fazer referência aos aspectos sociais que flagelam a região, tais como a seca e sua consequente pobreza, feitas através das descrições dos cachorros de pobre e dos cachorros de rico. Trata-se, então, de uma obra rica e de grande utilidade não apenas para estudos linguísticos, mas, também literários, geográficos e históricos.

Fonte de pesquisabpcnet.org.br: www.s/livro/65ra/resumos/resumos/5245.htm

 

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