Há 34 anos como repentista profissional, mestre Elias Procópio, conhecido como João Procópio, canta suas aventuras
O pai de Elias Procópio bem que podia ser profeta. “Quando eu tinha menos de 10 anos, ele já dizia: ‘esse menino vai ser cantador’”, afirma o repentista. Também pudera, o Elias moleque não podia ver uma lata. “Eu pegava, começava a bater e já fazia uma cantoria”, lembra. Nascido em Murici, o violeiro — que hoje conta 69 anos — foi levado criança para Atalaia. Foi nessa cidade, que começou toda a história de versos.
Mas no início, João Procópio, os ensaios não foram com a viola. “Eu era cantador de coco e pagode. Tocava para o pessoal das fazendas dançar. Essa era a minha festa”, diz. O primeiro instrumento foi o cavaquinho. “Eu tinha 10 ou 12 anos. Carreguei cinco contos da minha irmã e comprei. Meu pai, quando soube, devolveu o dinheiro a ela e não achou ruim. Sempre me apoiou”, conta.
Hoje, quem dá toda a força é o filho, Geraldo Lima. “Meu pai é um herói. Já andei muito com ele, seguindo nas viagens. Agora, incentivo ele a gravar seu primeiro CD. É importante esse registro”, fala orgulhoso. O álbum deve sair em novembro, no lançamento da 19ª edição do Encontro dos Campeões do Repente do Nordeste em Alagoas.
O festival foi criado por Elias Procópio, aos “trancos e barrancos”, como ele mesmo avalia. “Eu faço com muita dificuldade. Mas assim, eu acredito que essa minha arte não vai se perder. Agora, conto sempre com a parceria da Secult (Secretaria de Estado da Cultura). Nós trazemos gente grande, como Ivanildo Vila Nova, João Lourenço e Rogério Meneses, só os campeões”, assegura.
O ofício como repentista começou em 1975. “Antes disso, eu sustentava a minha família com o cordel. Vendi muito. Eu fazia feito em novela: contava uma parte da história e deixava o melhor em suspense. Não tinha quem não comprasse”, revela.
Depois, passou a conciliar o cordel com a viola. “Durante o dia, andava com um baú de folheto e caixa de som, microfone. Quando era perto da noite, eu escondia tudo no meio do mato e saía para tocar nas festas. Essa era minha vida. Alimentei sete filhos assim”, conta.
O reconhecimento veio. “Já ganhei muitos prêmios. O último foi mês passado, em Camaragibe, Pernambuco. Fiquei em terceiro lugar e só tinha cantador bom”, afirma.
Quanto ao fato de ser um patrimônio vivo para o Estado, Elias Procópio considera: “Essa iniciativa foi muito boa. Quando sou chamado, vou com alegria passar a história do repente para aquele meio mundo de menino”.
Associação dos Violeiros
Rua Bela Vista, 519, Brejal
Mais informações: (82) 99941-4075
Sonhos do violeiro: “Eu ainda faço um filme com a história do cantador. A associação será um ponto de cultura e teremos acesso à câmera. Quando tudo estiver acertado, eu mostro a nossa luta”.
Fonte: Asfopal – Associação dos Folcloristas de Alagoas
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.