O nome do grupo de baianas de Coqueiro Seco “Baiana volta a sorrir”, é bem representativo da história dessa manifestação na referida cidade. Entre os anos de 1958 a 2005 não se ouviu o toque das baianas por lá. Já há algum tempo venho freqüentando a cidade, desfrutando dos ensinamentos dos mestres Cajuza (que Deus o tenha) e Zé Um e da Mestra Luzia, todos integrantes da chegança Silva Jardim. Mas, em todo esse tempo não tinha ouvido falar em baiana em Coqueiro Seco. Foi Renata Mattar, que, em Fevereiro de 2005 descobriu Mestra Dulce, quietinha em sua casa, guardando um repertório musical maravilhoso! A maioria das músicas cantadas por ela eu nunca tinha ouvido nos outros grupos de baianas que eu já conhecia. Ao mesmo tempo, apresentou músicas bem tradicionais, como as encontradas por Théo Brandão (op. cit.) e Alceu Maynard, em Piaçabuçu-Al (1962). A partir daí foi grande a nossa expectativa em ver as baianas de Coqueiro Seco voltarem à ativa.
Em novembro de 2005, Lucimar (a melhor agente cultural que eu já conheci) nos fez sorrir quando deu a grande notícia de que ia “botar a baiana”. No primeiro ensaio das baianas que assisti, lembro-me do impacto em ver aquelas mulheres que eu conhecia, dançando Chegança, vestidas em roupas de marinheiros e generais, dançando ao som do abaianado, rodando suas saias e cantando com uma força estonteante. Foi impossível ficar parada! Foi impossível ficar calada! Penso que nenhuma mulher ficaria, tamanha a energia feminina que emanava daquele grupo.
A baiana de Coqueiro Seco tem a particularidade de utilizar o tarol em seu instrumental, o que lhe confere uma sonoridade diferenciada dos demais grupos de Alagoas. Além disso, a musicalidade que é tão forte em Coqueiro Seco, já conhecida pelo grande número de bandas na pequenina cidade e pelo afinado coro de vozes do Pastoril e da Chegança, confere algo de muito especial a esse grupo que impulsiona ao movimento quem está a assisti-las ou a ouvi-las.
Tudo isto não poderia ficar restrito ao universo de Coqueiro Seco e para nossa alegria, a primeira vez que a baiana “saiu”, tivemos o privilégio de tê-las se apresentando na estréia do show do nosso projeto musical que integrou a programação do Festival de Música Independente – FMI, em Maceió.
Esse projeto musical que eu e Renata realizamos em 2005, foi compartilhado também por Alfredo Bello que nos traz, com sua iniciativa de produzir este CD através de seu selo “Mundo Melhor”, a possibilidade de mais um sorriso que agora será compartilhado por todos, e, esperamos, pelo maior número possível de pessoas! Afinal, esse é o primeiro CD de Baianas.
Desde a gravação do compacto em vinil n° 21 da coleção Documento Sonoro do Folclore Brasileiro da Funarte, em 1977, que registrou as baianas da Mestra Terezinha, tivemos apenas duas faixas das Baianas Mensageiras de Santa Luzia, da Mestra Maria José Silvino, na Coletânea Música do Brasil de 2000. Mestra Maria José Silvino já se foi e sua maestria merecia mais, assim como tantas outras mestras já se foram. Mestra Dulce, Mestra Luzia e todas as baianinhas de Coqueiro Seco permanecem e permanecerão na memória e nos sorrisos dos que lhes ouvirão e, com certeza, desfrutarão de grande alegria! Alegria para um mundo melhor!
Referências:
Por Telma César
BRANDÃO Théo. Folguedos Natalinos de Alagoas. Maceió:DAC, série Estudos
Alagoanos, Caderno n° IX, 1961, 213p.
CAVALCANTI, Bruno César. “Bons e Sacudidos – o carnaval negro e seus
impasses em Maceió” In CAVALCANTI, B. C. ; FERNANDES, C. S.
e BARROS, R.R. de A. (orgs.) Kulé-Kulé: visibilidades negras.
Maceió: EDUFAL, 2006, pp.26-40.
DUARTE, Abelardo “Baianas” In Folclore Negro das Alagoas.
Maceió: Departamento de Assuntos Culturais, 1974, pp. 355-369.
MAYNARD, Alceu Araújo. Esforço do Folclore de uma Comunidade.
Prefeitura do Município de São Paulo. 1962.
RAFAEL, Ulisses Neves. “Xangô Rezado Baixo: um estudo da perseguição
aos terreiros de Alagoas em 1912”. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,
2004. Tese de Doutorado, 262p.
ROCHA, J. Mª. Tenório – Folguedos e Danças de Alagoas: Sistematização e
Classificação. Editado pela SEED do Estado de Alagoas, 1984.
Sobre o autor
Marcos Lima
Produz e divulga a sabedoria popular do povo alagoano e nordestino.