Manuel Bandeira

No livro Carnaval, publicado em 1919, dois anos portanto depois de seu livro de estréia, que foi A Cinza das Horas, incluiu Manuel Bandeira uma das mais famosas sátiras ao chamado Parnasianismo (seria talvez melhor dizer Neoparnasianismo), o poema “Os Sapos”, em que há referência explícita aos seguidores de Herédia.

O poema Os sapos (o trecho inicial encontra-se reproduzido acima) foi criado em 1918 e deu o que falar ao ser declamado por Ronald de Carvalho durante a emblemática Semana de Arte Moderna de 1922.Numa crítica clara ao parnasianismo (movimento literário que definitivamente não representava o poeta), Bandeira constrói esse poema irônico, que tem métrica regular e é profundamente sonoro.

Trata-se aqui de uma paródia, uma maneira divertida encontrada pelo eu-lírico de diferenciar a poesia que praticava daquela que vinha sendo produzida até então.Os sapos são, na verdade, metáforas para os diferentes tipos de poetas (o poeta modernista, o vaidoso poeta parnasiano, etc). Aos longo dos versos vemos os animais dialogarem sobre como se constrói um poema.

O sapo-tanoeiro,

Parnasiano aguado,

 Diz: – “Meu cancioneiro

 É bem martelado.

*

Vede como primo

 Em comer os hiatos!

 Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.

*

 O meu verso é bom

Frumento sem joio.

 Faço rimas com

 Consoantes de apoio.

*

 Clame a saparia

 Em críticas céticas:

 Não há mais poesia,

 Mas artes poéticas …

*

O próprio Bandeira esclarece: “A propósito desta sátira, devo dizer que a dirigi mais contra certos ridículos do post- -parnasianismo”.  Realmente, embora numa das estrofes d~ poema faça o sapo-tanoeiro afirmar que “A grande arte e como lavor de joalheiro”, o que nos lembra fatalmente a celebérrima “Profissão de Fé” bilaquiana, a ironia maior, presente em alguns dos versos transcritos, está nas carapuças que, segundo confessa ainda o poeta, endereçou a Hermes-Fontes, cuja dicção oscilava entre Parnasianismo e Simbolismo, e que fizera questão de, no prefácio das suas Apoteoses, de 1908, explicar aos leitores que não rimava palavras cognatas, e a Goulart de Andrade, que, no poema “Forte Abandonado”, em suas Poesias (1907), não somente usara a rima com correspondência da consoante anterior à tônica da rima, como pusera, entre parênteses, a informação: “obrigada a consoante de apoio”.

Mas no mesmo livro Carnaval, ao lado da sátira (que é datada de 1918) , incluiu o poeta alguns sonetos que, tanto pela forma como pelo tema, destoam fundamente da revolução pregada naquele poema: “A Ceia”, por exemplo, fala-nos bem parnasianamente de um festim na Roma dos Césares:

Junto à púrpura os tons mais ricos esmaecem. Chispa ardente lascívia em cada rosto glabro. Luzem anéis. A luz crua do candelabro Finda a ceia. O perfume e os vinhos entontecem.

César medita e trama o desígnio macabro. Quando em volúpia aos mais os olhos enlanguescem, Os seus, frios, fitando o irmão, lançá-lo tecem, Honras depois, do Tibre ao fundo volutabro.

Fonte: www.repositorio.ufc.br

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